ARTE: ARQUITETA CAROLINA LIMA

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quinta-feira, 13 de agosto de 2009

HISTÓRIAS DO VELHO CAPITA


O TREMA
Quem diria? O Ribamar assumiu de uma vez, a notícia foi um choque, amigos, colegas de trabalho, a família, ainda estão perplexos, de queixo caído, sem acreditar na história de Ribamar. A raiva de seus filhos é tanta, que não querem vê-lo. Martinha sua ex-amante, ex-esposa, hoje inimiga número um, está às gargalhadas, espalhando como pode que tem novo viado no pedaço, Ribamar saiu do guarda-roupa, ela completa: “Eu bem que desconfiava!”
Nenhum amigo ou conhecido jamais suspeitaria que o maranhense fosse qualhira (viado no Maranhão). Feito São Tomé, só acreditei ao encontra-me com o próprio acompanhado de um amigo em Marechal Deodoro, convidou-me para almoçar no Bar do Pelado; durante a gostosíssima arabaiana ao molho de camarão, Ribamar contou-me fatos detalhados de sua vida, e como assumiu a sua sexualidade sem remorso. Não parou de falar, nem para respirar.
“No final dos anos 60 saí do Maranhão, minha terra, vim trabalhar em Maceió no Banco do Brasil. Gostei, por aqui fiquei, constitui família, me considero alagoano. Acontece que só agora depois dos 50 anos, assumi minha sexualidade, sou homossexual meu irmão, aliás, bissexual, ainda tenho excitação por mulher. Passei minha vida me reprimindo, quando eu bebia tinha vontade de segurar no cacete dos amigos, mas me segurava, tinha medo da desmoralização, do escândalo. Casei-me, tive dois filhos, entretanto, em vez em quando, minha homossexualidade aflorava, eu a mergulhava. Tive problemas e brigas homéricas com a Martinha, talvez até inconsciente, pela minha reprimida vontade sexual insatisfeita. Separamos-nos, Martinha hoje me detesta, me destrata onde estiver, está com a língua solta.
Ano passado fui a uma psicóloga de rara competência, clinica em Maceió, ela puxou tudo de mim, depois de certo tempo me preparou para eu assumir minha sexualidade, hoje digo sem remorso, sem importar para o que pensem, sou bicha, bicha mesmo, adoro dar.”
Eu ia fazer um comentário, mas ele reiniciou seu relato:
“E digo uma coisa, estou agora na linha de frente na luta contra a homofobia, tornei-me batalhador da causa das minorias sexuais tão discriminadas. O único problema é a aceitação de meus dois filhos, sei que é difícil, mas um dia me tornarei um homem feliz quando eles me aceitarem como sou. Tem mais, vou me casar (passou o braço por cima do amigo), eu e Dirceu estamos noivos, marcamos nossa união para outubro de 2010, você está convidado...”
Ribamar não parou de falar, eu só escutando, quase não dei opinião, foi conversa de xiita engajado na luta dos homossexuais. No final tirei apenas uma conclusão, o não retorno de Ribamar à categoria dos machos, ele está cabeça feita, era um sujeito acanhado, essa psicóloga transformou o maranhense.
Domingo passado, bela manhã de praia, reunido com membros da Confraria dos Barrigas Brancas (no Ceará Barriga Branca é marido bem mandado) na Barraca Pedra Virada, contei o caso para os participantes da mesa. Na hora Radjalma levantou a discussão sobre a psicóloga que está fazendo tratamento em homossexuais para voltarem à normalidade, ela classifica o “gay” como desvio sexual, o Conselho de Psicólogos proibiu à doutora tratar seus clientes homos, tentando recuperá-los para o lado hétero.
Na reunião, como convidado especial, encontrava-se um dos mais famosos psiquiatras das Alagoas, Dr. Fonseca, ele aproveitou a ocasião, explicou a questão da melhor forma científica, ou seja, a pessoa não se transforma durante a vida, a homossexualidade vem do berço, alguns com mais teor, assumem cedo, outros só assumem quando se dá o que os alemães chamam de “Trema”, o período de incerteza por quem passa uma pessoa que venha desenvolver uma paranóia ou um estado indefinido de identidade sexual, como acontece com adolescentes que irão se definir posteriormente a essa incerteza em homossexuais assumidos ou bissexuais. O termo Trema foi transposto da pré psicose para o pré homossexual.
Amigos, vocês entenderam? Então se o senhor tem vontade de abraçar um amigo com mais força ou de beijá-lo na boca, tem vontade de segurar ou outro gesto qualquer, não se acanhe, hoje em dia é normal, o terceiro sexo já está em segundo lugar, vá a um médico de ajuda mental, depois do TREMA, faça como Ribamar, o homem que só pensa em dar. Talvez o senhor até arranje um bom casamento como o maranhense.

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