ARTE: ARQUITETA CAROLINA LIMA

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quinta-feira, 27 de agosto de 2009

HISTÓRIAS DO VELHO CAPITA


A PIRANHA MOSCOVITA
Marcelino foi um rebelde durante a juventude, um revoltado, seu pai criou os seis filhos com uma bodega. Marcelino estudou em colégio estadual, excelentes professores, como eram na época, não teve dificuldade em passar no vestibular de odontologia, tornou-se líder universitário, presidente de diretório. Cooptado por partido de esquerda na clandestinidade, Marcelino foi ótimo tarefeiro, panfletário. Dizia-se marxista-leninista, pregava a revolução socialista nos botequins da cidade, cantava a IV Internacional, era soldado da revolução bolchevista que mais cedo ou mais tarde aconteceria no mundo.
Ao se formar fez sociedade com três colegas, adquiriram um consultório de dentista, início de carreira, os três colegas progrediram, Marcelino teve grande frustração ao perceber que odontologia não era sua profissão ideal, precisava mãos firmes para tratar dentes alheios, ele não conseguia, suas mãos eram trêmulas, principalmente nas segundas-feiras quando a ressaca o deixava com delírius-tremus pelo excesso de bebidas. Ser revolucionário era mais maneiro, apenas não dava dinheiro para sustento. Tempos depois um amigo é eleito deputado, convida-o para ser assessor, ele ajudou na campanha arrancando dentes dos pobres na periferia. Logo Marcelino entrou na promissora profissão de atravessador entre empreiteiras e o amigo deputado. No fim do mandato Marcelino estava rico, com um belo apartamento, casa de praia na Barra de São Miguel, bons carros, casou-se com a irmã do deputado, agora federal, conhece todos os corredores e tapetes dos ministérios e os mistérios de Brasília. Só não quer ouvir falar em socialismo e odontologia.
Às vezes quando toma um bom porre ele tem uma recaída, faz apologia à União Soviética, nem lembra, pelo estado etílico, que o muro de Berlim caiu em 1989. Seu sonho delirante de bêbado é ser governador de Alagoas e fundar uma república socialista, entretanto, quando sóbrio, chama o MST de baderneiros, aproveitadores, e Fidel Castro um enganador cubano.
Ano passado houve uma excursão à Europa Oriental programada por uma agência de turismo, sua mulher não pôde ir, Marcelino não tinha como recusar o presente da viagem, todo pacote pago por uma empreiteira.
Iniciaram a viagem por Moscou, chegaram tarde na capital russa, o guia aconselhou a descansar, no outro dia haveria uma jornada prolongada, um city-tour em Moscou. Marcelino, o único “solteiro” da excursão ficou bebericando saborosa vodka no bar do hotel com amigos, conversando maravilhado em conhecer aquela terra, onde não havia pedintes na rua, nem prostitutas nas esquinas, o papo se prolongou, os amigos resolveram dormir. Ao se dirigir ao elevador Marcelino percebeu o sorriso e o olhar de uma bela loura sentada no saguão do hotel. Deixou os amigos subirem, fez que ia ao banheiro, passou, cumprimentou a russa loura que amavelmente abriu-se em sorriso. Na volta Marcelino chegou-se à bela russa, tentou conversar, ela pouco falava inglês, entretanto, era exímia na língua universal da raparigagem. Logo Marcelino estava com Tamara Kamorova nos braços. A russa sabia tudo de sacanagem, quase mata nosso querido socialista, que entornando vodka relembrou a IV Internacional. No final de uma bela e inesperada noite de amor, em nome da revolução mundial, ele lhe deu duas notas de 100 dólares. Tamara Kamorova ficou radiante, saiu de leve do apartamento, deixou Marcelino roncando.
Dia seguinte às 8 da manhã o telefone o acordou. Marcelino rapidamente se aprontou, desceu ao café. Ao se dirigir com os casais amigos ao ônibus, um empregado do hotel falou discretamente, algumas moças queriam falar com ele. Eram seis russas de mini-saia no saguão, quando perceberam quem era Marcelino avançaram, todas falando ao mesmo tempo, numa mistura de inglês e russo: “Mister Macelido, Mister Macelido, I folk 100 dólares, I folk 50 dólares.” Uma pequena balbúrdia no hotel, Marcelino entendeu, a piranha moscovita falou dos 200 dólares para as colegas, uma fortuna para o michê russo, as raparigas estavam se oferecendo, queriam também ganhar bons dólares.
Nosso amigo conseguiu se desvencilhar das putas russas, mas não se desvencilhou da curiosidade dos amigos e esposas, o pequeno tumulto foi esclarecido, aos ouvidos, durante o percurso. Djanira, colega desde a faculdade não conteve o irônico comentário: “Grande Marcelino! Eu sabia que você era socialista, mas, jamais imaginaria que era tão popular na Rússia com a mulherada moscovita”. Marcelino sorriu discreto e amarelo, os amigos às gargalhadas, enquanto o ônibus prosseguia em marcha lenta mostrando pelas janelas as fascinantes ruas da bela Moscou.

Um comentário:

Anônimo disse...

Grande Carlito,

O seu amigo Marcelino está enganado. Há, sim, prostitutas e mendigos em algumas esquinas da Moscou pós Perestróika.