ARTE: ARQUITETA CAROLINA LIMA

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terça-feira, 25 de agosto de 2009

PAI DOS BURROS


Não digo que "O Pai dos Burros" é daqueles "livros que não se consegue largar" porque isso pode soar como ofensa, ou no mínimo uma afronta ao autor, o jornalista Humberto Werneck. É que esse mineiro se ocupa há quase 40 anos em anotar, guardar e quebrar ao meio frases feitas como a acima citada. Dessa pesquisa saiu o dicionário, com mais de 4.500 expressões espalhadas pelos 2.000 verbetes da obra, apresentados em ordem alfabética a partir da palavra-chave. Pérolas que a gente escuta (e fala) todo dia como "façanha sem precedentes" ou "múltipla faceta" nos faz sentir meio burrinho mesmo. A obsessão do autor em juntar essas fórmulas prontas é a prova de uma "preocupação sadia" com a linguagem . E é famoso por retorcer a frase-feita, dando-lhe um sentido original. Porque dizer que a vida está de "vento em popa" não tem o menor charme, mas o contrário, de que está de "vento em proa" é mesmo bem interessante.Para chegar até "O Pai dos Burros", Humberto vem num longo caminho de fórmulas prontas. Leu "Dicionário das idéias feitas", de Gustave Flaubert (1952), e "Lugares-comuns", de Fernando Sabino (1974). As expressões só se gastaram por terem sido, um dia, luminosos lugares-incomuns, a partir daí repetidos até a exaustão semântica. Por exemplo, os "porões da ditadura" e os "anos de chumbo" que a gente lê tanto por ai são criações do jornalista Augusto Nunes, lá pelos anos 1970, na revista Veja. "O problema é que a imitação é sempre menos talentosa".

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