ARTE: ARQUITETA CAROLINA LIMA

Um Blog feito pelos leitores

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

HISTÓRIAS DO VELHO CAPITA


O ROUBO DO CHEVETE AZUL

Na quarta-feira pela manhã Roberta foi à feira no Bompreço, era semana-santa, precisava abastecer sua casa na praia de Ipioca. Depois das compras, carrinho cheio de pacotes, procurou seu carro no estacionamento, nunca se lembra onde deixa. Até que viu ao longe um chevette azul. A porta estava meio emperrada, conseguiu abrir, colocou as compras no banco traseiro, deu o arranque com dificuldade, foi para casa. Na hora do almoço, Zé, seu marido, combinou para que ela fosse à frente para Ipioca, as crianças estavam ansiosas, ele só podia ir no outro dia, tinha muito trabalho em casa. Seria melhor ela viajar no seu carro, um belo Toyota. Ele ficava com o chevette.
Na quinta-feira, logo após o almoço, Zé preparou-se para viajar, notou alguma coisa estranha no carro da mulher. Abriu a porta com dificuldade, só pegou a partida na quarta tentativa. Rumou em direção a Ipioca, satisfeito da vida, vestido numa velha bermuda e uma camisa surrada, ele gosta de se vestir bem folgado nas horas de folga. Deixou o celular em casa para não ser incomodado. Ia curtir o feriadão sem problemas. Amava sua casa, sua praia, sua Ipioca, sua mulher, sua família.
Ao passar pelo Posto Policial da Praia de Riacho Doce, o guarda mandou parar. Zé obedeceu, mostrou as carteiras e os documentos do carro que estavam no porta-luvas. O guarda examinou, olhou nos olhos de Zé e disse:
- Por favor, queira saltar, esse carro é roubado.
Zé ficou surpreso, incrédulo, dirigiu-se para o interior do Posto, falando que havia algum engano. Tentou se explicar, era engenheiro, empresário, o carro era da sua mulher. O policial pediu a carteira de engenheiro. Ele respondeu que não usava, ficou em casa guardada. O policial, pelas roupas que Zé vestia, o colocou como suspeito. Mandou aguardar, havia chamado o DETRAN e o departamento de furto, ele esclarecesse os fatos. Quase duas horas depois apareceu o pessoal do DETRAN. Zé prestou os esclarecimentos, não teve muito credito. O policial chefe mandou recolher o carro, ele acompanhasse até o DETRAN. Zé dirigiu o chevette com um policial ao lado.
No DETRAN teve que explicar novamente aos outros policiais. Mandaram aguardar, estavam se comunicando com o proprietário do carro. Um policial afirmou com certeza, Zé fazia parte de uma quadrilha de puxadores de carro de Arapiraca. Logo, o proprietário do chevette apareceu; alto, magro, cheirando a cachaça. Vibrou ter encontrado seu santo carrinho. Beijou o pára-lama, o capô, chorou de emoção quando entrou no carro. O proprietário esclareceu o ocorrido, a gerencia do Bompreço telefonou pela manhã, havia dormido no estacionamento um chevette azul, igual ao dele que poderia ter sido levado por engano. Zé matou a charada, conhecendo a distraída mulher, percebeu o que havia acontecido, ela conseguiu roubar um carro parecido com o seu.
Subiram ao Bompreço. Tudo esclarecido, desculpas pedidas de ambas as partes, Zé partiu ansioso para Ipioca, estava anoitecendo. Queria chegar logo, estava irado com a história maluca da distração de Roberta. Quando passava pela Praia de Pratagy, de repente o chevette azul começou a diminuir a velocidade, até que parou. Tentou dar a partida, não pegou. Falta de combustível! Zé ficou à espera de um milagre. Uma hora depois ele veio em forma de um velho fiat, socorreu com gasolina. Era noite quando o chevette azul parou em frente a sua casa, Roberta brincava com as crianças na calçada. Zé desceu com uma cara indefinida entre raiva e cansaço. Estava arrasado. A dileta esposa, não notou a fisionomia do marido, recebeu-o alegremente:
- “Zé, porque só chegou há essa hora? Não sabe o que perdeu, a piscina natural estava maravilhosa!!!”
Roberta nada entendeu, porque Zé balbuciou, gaguejou, falou palavras sem nexo. Cheio de raiva, pena e impotência, emudeceu. Só conseguiu sentar-se no meio-fio da calçada, colocou a cabeça entre as mãos, deu vontade de chorar.

Nenhum comentário: