ARTE: ARQUITETA CAROLINA LIMA

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quinta-feira, 15 de outubro de 2009

HISTÓRIAS DO VELHO CAPITA


A PENITÊNCIA DE MARILENE

Marilene era uma bela jovem, desde que tomou corpo de moça, aos 14 anos, todo homem a olhava com desejo, ela se realizava em sentir os olhares maldosos, gostava de ser paquerada, desejada, a todos seu amor prometia, mas nada queria com o pobre João. Não que ele fosse pobre de dinheiro, era filho do pastor, teve uma educação rigorosíssima, era pobre de espírito, de conversa, um abobalhado, temente a satanás, entretanto, apaixonado por Marilene. Ela arteira e serelepe, o olhava com desprezo, se divertia zombando de João. Quando Majella tirou a virgindade de Marilene em um banho no Rio São Francisco, a notícia se espalhou na pequena cidade do Canindé, sertão de Sergipe. Seus pais tentaram fazer um casamento forçado, mas o pilantra do Majella fugiu para as bandas de Anadia, escondeu-se numa fazenda do tio, até esquecerem o fato. O problema agravou-se, não veio a menstruação em dois meses, levaram Marilene ao doutor, era gravidez. O pai desgostoso sentiu-se desonrado, resolveu mandar a filha para a capital, que parisse em Aracaju, arranjasse emprego para se sustentar e ao filho, não voltasse para Canindé, a família estava desmoralizada.
No ônibus, Marilene sentou-se em uma poltrona, sua alegria permanente havia acabado. Com apenas 18 anos ia enfrentar o mundo, tudo girava em sua cabeça como se fosse um pesadelo, um inferno astral tomou conta de seu ser. Estava com esses devaneios quando sentou-se a seu lado, João, o bobo, pediu licença, ela lhe deu um sorriso como uma concessão, pensou, “ainda viajar com esse chato”.
O ônibus partiu, Marilene, pela janela, olhava as árvores, as plantações, o Rio São Francisco, seria a última vez? Depois de uma hora de viagem, João tomou coragem, conversou com a vizinha, foi taxativo, sincero e contundente.
“- Marilene, sei que você não gosta de mim, sei que fui criado com uma religiosidade muito forte, acredito no castigo do demônio, oro muito, faço minhas penitências para Deus perdoar meus pecados. Mas, você percebe que desde menino tenho uma paixão muito grande por você. Tenho certeza, isso não é novidade. Quando lhe via se banhando no rio, eu me possuía à noite em sua intenção, pequei muitas vezes lhe desejando, mas meu amor é muito forte, tenho verdeira obsessão por você.”
Marlinene quis falar, ele interrompeu, pediu para terminar o que tinha a dizer, continuou.
“Sei do seu caso com aquele sacana do Majella, de sua gravidez, sei que seu pai lhe expulsou de casa, seu destino é incerto e complicado, você pode até terminar na zona em Aracaju. Por tudo isso quero lhe fazer uma proposta. Quero que você se case comigo, eu assumo a paternidade do filho que leva na barriga, vamos viver juntos em Aracaju, quero apenas sua confiança, e...”.
Marilene não deixou João terminar a frase, deu uma gargalhada, balançou a cabeça afirmando a negação.
João calou-se, os dois calaram-se. Marilene, aos poucos, refletiu, veio-lhe a razão, pesou os prós, os contras, depois de mais outra hora de viagem, mudos, Marilene virou-se para João, disse apenas: “Topo”.
Ele já tinha emprego garantido em Aracaju, auxiliar do pastor de uma Igreja. Casaram-se. Os primeiros anos, João viveu na maior felicidade, amava Joãozinho, seu filho, como dizia para todos, só em Canindé o povo sabia da origem do menino.
Tempos depois, João recebeu um convite, havia uma vaga de pastor numa cidade do interior de Santa Catarina. Aceitou. Ele viajou sozinho para o novo emprego, ela retornou para casa da mãe, com os dois filhos, até João se estabelecer, o pai havia morrido. O novo bispo logo mandou buscar Marilene, ela inventava desculpas, não podia ir naquele momento, assim se passou quase um ano. Perto do natal João foi visitar e buscar a família. Para seu maior desgosto, logo lhe contaram, Marilene teve uma recaída, voltou à traquinagem, transou com todos os amigos de juventude. Listaram os homens que Marilene havia transado, fora os escondidos. Nos banhos de rio, ela pegava pivete que aparecia.
A notícia foi um soco na barriga, na alma de João, ao chegar em casa ele abriu o jogo com a mulher, ela não se fez de rogada, contou a verdade. Chorou muito, pediu perdão, dizia que era aquela terra, tinha uma coceira quando chegava à Canindé. Na capital nunca lhe traiu. Não a deixasse só. Queria ir com ele urgente para Santa Catarina. João pensou durante três dias e três noites, até que decidiu, aceitaria novamente Marilene para viver, se ela cumprisse uma penitência: Pedir desculpas a todas as esposas dos homens que transou. Marilene não pensou muito, em dois dias conseguiu visitar e pedir perdão às mulheres traídas.
Hoje o casal vive em Santa Catarina. Em Canindé houve brigas cinematográficas entre casais, o Registro Civil certificou mais quatro divórcios, conseqüências da penitência de Marilene.


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