ARTE: ARQUITETA CAROLINA LIMA

Um Blog feito pelos leitores

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

HISTÓRIAS DO VELHO CAPITA


O PERDÃO

A bonita Hellen Merkel nasceu na Alemanha, chegou ao Brasil ainda menina, seu pai, gerente de uma fábrica no Paraná, adotou essa terra como sua, vive em Curitiba. Na juventude Hellen tornou-se rebelde, adorava vestir camisa com foto de Che Guevara, boina vermelha de lado, típica guerrilheira de botequim, freqüentava os melhores e piores bares da cidade discutindo o fim do capitalismo e a vitória final do mundo socialista soviético. Entretanto, em sua casa não dispensava boa comida, roupas de grifes para festas burguesas que dizia detestar, e ar condicionado para os dias de calor. Experimentou a maconha, depois a cocaína. Entregou sua virgindade nos braços de um companheiro revolucionário, colega da Faculdade de Medicina, um bonito argentino de nome Belizário.
Contudo sua paixão mais forte foi seu professor. Precisou de um acompanhamento psíquico para deixar a cocaína antes de casar. O Dr. Amadeus, também sangue alemão na veia, ficou apaixonado pela meiguice e determinação de sua aluna na Faculdade de Medicina. Divorciado, 17 anos mais velho que a jovem Hellen. Houve certa dificuldade em aceitar o casamento pela família. Ela grávida, logo teve seu primeiro filho.
A diferença de idade entre os dois foi-se acentuando com o tempo, enquanto Hellen cuida do corpo e da saúde, Amadeus deixou-se levar pelo sedentarismo, tem uma notável barriga conseqüência das cervejas diárias. Vive de um consultório médico pouco frequentado e da aposentadoria de professor. Enquanto Hellen se tornou uma das mais competentes pediatras da cidade.
Foram mais de 25 anos de razoável convivência, com respeito mútuo criaram três filhos. Mas o diabo atenta, às vezes aparece em forma feminina. Não é que Amadeus se engraçou de uma pilantra, ficou de caso com uma menina de 22 anos. Ele que sempre viveu para o lar, encantou-se com mulher nova, bonita e carinhosa. A menina ganhou presentes caros, as jóias deram boa baixa na poupança do Gordo.
Não foi difícil Hellen descobrir toda história. Conversou sério com Amadeus, deu-lhe uma chance para largar a sirigaita. Ele passou dois meses afastado, entretanto, a força do satanás foi maior, o Gordo, voltou a encontrar-se com a jovem.
A esposa traída não agüentou a situação, reuniu os filhos em casa, contou o ocorrido. Resolveu tirar umas férias para pensar, viajaria para um lugar tranqüilo, pensar o que fazer de sua vida, tinha 45 anos, idade crítica para tomar decisões e mudar de vida, precisava refletir em paz, sozinha, longe dos acontecimentos.
Escolheu Recife, Hellen sempre teve um encanto especial por essa cidade. Chegou ao hotel numa ensolarada tarde, atravessou a avenida, sentou-se num banco para apreciar o mar azul esverdeado, sentiu-se bem. Pela manhã caminhou na areia da praia de Boa Viagem, sem alguma companhia, o espírito queria isolamento, pensar nela mesmo.
Certa manhã, após a caminhada, sentou-se numa barraca, pediu água de coco, o garçom de bermuda e camiseta prontamente trouxe o coco, abriu na hora com três golpes, colocou um canudo e entregou-lhe sorrindo.
Hellen teve inveja da simplicidade, da felicidade que irradiava o jovem garçom, notou também o belo corpo do moreno, cheio de músculo, espadaúdo. Puxou conversa. Dionísio contou sua vida, era garçom, foi cabo do Exército, pescador quando menino, agora ajudava o pai na barraca de praia de onde a família tirava a sobrevivência. 32 anos, dois filhos, mas era solteiro, não queria mulher lhe prendendo. Conversaram bastante. Nos outros dias Hellen depois da caminhada não dispensava o bate-papo com seu amigo Dionísio, percebeu que havia despertado dentro dela algum ânimo adormecido. Foram-se cinco dias entre conversas, às vezes, confidência; ao olhar o novo amigo nos olhos, de leve perturbava-se. Num entardecer, passeando pela calçada, notou um ambulante vendendo camisa de Che Guevara, alegrou-se, comprou uma; num ímpeto, trocou a camisa num banheiro, sentiu-se bem, era novamente a garota rebelde dos velhos tempos, estava feliz, vontade de cantar, de controvérsias, de insensatez. De repente, caminhou firme em direção à barraca, passos determinados. Havia poucos clientes, ao ver Dionísio em pé olhando o mar, aproximou-se do amigo, sorriu-lhe, olhou nos olhos, abraçou-o, beijou sua boca. À noite foram para o hotel, dormiram juntos quatorze dias.
Ao chegar a Curitiba, Amadeus esperava no aeroporto. Em casa conversaram, o Gordo arrependido, pediu perdão, prometendo não procurar mais a sirigaita. Hellen o perdoou, com uma condição, viajar sozinha para meditação, pelo menos uma vez por ano, ao Recife.

Um comentário:

Simone disse...

Algumas "pitadas" de imaginação ou totalmente verídico?
Eis mais uma questão!
Bjs amigo