ARTE: ARQUITETA CAROLINA LIMA

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quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

HISTÓRIAS DO VELHO CAPITA


ASSIM SE PASSARAM 40 ANOS
No longínquo ano de 1963, tenente do Exército, servindo no 19º BC de Salvador, passei as férias de verão, como de costume, em Maceió. Certo dia minha irmã Rosita, convidou-me para visitar o acampamento das bandeirantes, ela era a chefa. Fez mil recomendações para não me enxerir com as moças, entretanto, quando olhei aquela beleza de galeguinha não pude deixar de cantar uns versos da ciranda: “Oh menininha você é tão bonitinha... Engraçadinha... Vou me casar com você...”
O tempo passou. Promovido a capitão no final de 1967, fui classificado no 20º BC em Maceió. Uma das melhores épocas de minha existência. Um capitão do Exército naquela época na escala de valores dos puxa-sacos valia mais que cinco deputados. Maceió dos anos dourados encantava, frequentei todas as festas. As noitadas geralmente terminavam nos bares e boates da cidade. Minha vida social se intensificava com os colegas da Faculdade de Engenharia. Época de muito trabalho, estudo e boemia.
Até que um dia encontrei a bandeirante bonitinha que havia retornado dos Estados Unidos. Como se fosse uma premonição da ciranda, no dia 9 de janeiro de 1970, casei-me com Vânia.
A despedida de solteiro foi no Bar do Miltinho na Praça 13 de Maio, quando ainda era praça do povo, não tinham construído absurdamente o SESC acabando a praça. A noitada foi maravilhosa, o bar se encheu de amigos, colegas da faculdade, empresários, militares, pescadores, políticos, um padre e uma cafetina. De repente chega Téo Vilela com um Insquenta Muié, cantando: “A minha turma que bebe um pouquinho... no bar do Miltinho... até o sol raiar...” A festa só acabou ao amanhecer.
No outro dia, sexta-feira, dia do casamento, 10 horas da manhã Dona Zeca sorrindo me acordou mostrando um anúncio fúnebre na Gazeta de Alagoas, uma cruz, meu nome, a relação de mais de 50 amigos convidando para o “enforcamento” do Capitão Carlito Lima na Catedral Metropolitana às 20 horas. Quando fui ao mergulho matinal no deslumbrante mar da Avenida da Paz, surpreendi-me com uma faixa em frente ao coreto: “As meninas do Mossoró choram a perda de Carlito”. Foram mais de 10 faixas na cidade com dizeres semelhantes colocadas por Esdras Gomes, Marden Bentes e Eduardo Uchoa. Em casa na hora do almoço ouço um serviço de som ambulante com o locutor empolgado: “Convidamos o povo em geral para o enforcamento de Carlito Lima...”.
Ao chegar à Igreja fardado de capitão, assustei-me com a quantidade de curiosos assistindo o sereno do casamento. A Banda de Música do 20º BC tocou maravilhosamente durante a elegante cerimônia; a catedral lotada de convidados. Depois da cerimônia, ao sair da Igreja, os colegas do Exército fizeram a abóbada de aço com as espadas cruzando no ar, uma tradição no casamento militar. Os amigos jogavam arroz e camisinhas cheias como bolas de soprar. De repente um Insquenta Muié entrou na recepção, a festa continuou, muita alegria. Fiquei apenas preocupado com a armação de um seqüestro do noivo, planejado, um amigo achou a brincadeira pesada, me alertou. Durante a recepção, em qualquer lugar que eu fosse, grudava o sargento Olavo e dois soldados fazendo a segurança. Abortaram o sequestro. Dia seguinte, no fusca emprestado de Guilherme Palmeira, parti para lua-de-mel em Salvador.
Assim de passaram 40 anos daquele casamento alegre, com muito bom humor dos amigos e dos noivos. É preciso boa dose de amor e de tolerância para se passar 40 anos juntos. Nada é fácil, não houve céu de brigadeiro o tempo todo, muitas trovoadas, turbulências, C.Bs., rotas de colisão, ainda bem que nossos “transcomanders” funcionaram com bom senso. Os anos me tornaram um admirador de minha mulher. Vânia foi à luta, terminou a faculdade de direito já nos quarenta anos, abriu um escritório de advocacia, ralou muito, estudou muito, passou no concurso puxado do Ministério Público, foi excelente promotora, aposentada, dá uma mão no escritório da família. Em 40 anos construímos juntos um bonito patrimônio, não o imobiliário, mas o familiar com três filhos, genro, nora e três netos, que são nossos prazeres de avós corujas.
Como plantei muitas árvores e depois dos 60 anos descobri um talento de escritor, além dessas historinhas semanais escrevi 13 livros, segundo os sábios chineses, é sinal que vivi. Ainda tenho muito a viver e escrever; privilégio de quem tem 40 anos de casado, 70 de rodagem e muito amor para dar que a gente nem sabe.

5 comentários:

Janaina Amado disse...

Carlito, delícia de texto, transborda amor e humor. Não conhecia os pormenores do casório, me diverti muito.

APOLONIO disse...

Carlito, quero confessar a minha inveja. Sadia inveja. Acho que esta, DEUS não castiga. Receba esta manifestação como preva de admiração. Seja feliz, sempre. Divida com a sua amada Vânia este meu carinho.

Francisco Gomes disse...

Não me canso de ler e reler os textos do ilustre escritor e membro da Academia Alagoana de Letras, Carlito Lima.
Cada leitura é mais do que um exercício de prazer, porque dá uma sensação de alegria, de paz, de conforto. E, finalmente, fortifica o coração e a alma do leitor.
Parabéns pela excelente produção literária!
Parabéns pelos 40 anos de vida conjugal, bem vividos, ao lado da Dra. Vânia!
Abraços.
Do potiguar Francisco Gomes

Aída disse...

Oi Carlito!!!
Parabens pra voce e pra Vania, o casal alegria!!!!
A primeira lembranca que tenho de voces e quando vi voces no desfile da Unidos do Poco, acho que no primeiro carnaval morando ali na Avenida.... eu fiquei encantada com a alegria de voces dois!!!! Ai ficou na minha memoria ate hoje faco essa associacao!!!!
Sao 40 anos de alegria!!!
Que muito mais anos venham...
Beijos
Aida

Anônimo disse...

OlÁ !!!
Achei lindo o seu relato em relação a sua querida Vãnia ,e gostei da sua sinceridade em falar das alegrias e turbulências,acho que a vida não é dificil quando se tem um próposito de melhoria, flexibilidade para se renegociar as coisas,bom humor é muito importante ,mas o elogio é uma coisa que as pessoas esquecem,os militares são reconhecidos com as medalhas e as mulheres ja que não recebem medalhas ,que recebam elogios não so na intimidade ,mas que sejam feitas publicas e frequentemente ,com certeza o casamento melhorara e muito sim,continue elogiando mulher,filhos netos empregados enfim todos que possamos elogiar ,mas sempre com sinceridade ,felicidades para vc e sua Vania ,e eu sendo mulher de milico ,sei como é trabalhosa a caminhada nossa,os militares chegam num quartel e sempre conhecem alguém ,nos chegavámos nas cidades sem conhecer as x ninguém e tinhamos que cuidar da casa ,dos filhos e de tudo,,Merecemos tudo de bom,pq somos verdadeiras guerreiras ,felicidades