A BELEZA DOS PÉS
A SANTA
Igualzinho a Djavan, Otávio nasceu na Pitanguinha e foi batizado na capela do Farol, Matriz de Santa Rita, Maceió. Teve uma bela juventude, viveu com intensidade os anos dourados, os últimos românticos da humanidade. Diz o dito popular, cada doido tem sua mania, Tavinho, como é conhecido nas altas e baixas rodas, também tem sua mania, aliás, sua fantasia, seu fetiche, ele é alucinado, tarado, gamado por pé de mulher. Não que seja defeito, entretanto, no caso exagerado de Otávio, tornou-se neura. Certa vez, marcou consulta com um competente psicólogo, depois de muita análise, concluiu, essa obsessão vem de um fato. Ele tinha seis anos de idade, sua zelosa mãe, comprou um quadro, gravura de uma santa descalça pisando em três serpentes, significavam três demônios. Pendurou no seu quarto para protegê-lo. Tavinho em sua inocência ficou impressionado com a gravura, toda noite ele sonhava com serpentes tentando mordê-lo, de repente, apareciam os pés bonitos da santa esmagando as serpentes. Às vezes, ainda hoje, Otávio sonha com os pés da santa. O médico diagnosticou, o sonho tem a ver com o desejo.
FORTE DETALHE
Na beleza e vigor da juventude, jogávamos pelada na areia dura da praia da Avenida da Paz, depois, um mergulho na água morna, transparente, azul-esverdeada e as sombrinhas armadas na areia pelas meninas, nossas paqueras, moças bem comportadas, casadoiras e virgens. Durante o papo descontraído, discretamente olhávamos os dotes anatômicos das jovens, entretanto, Otávio ficava a fitar, hipnotizado, os pés nus das moças brincando com a areia fofa da praia. Não é que, ele não gostasse do restante, pelo contrário, ele foi um namorador, um sedutor, gostava de todas as mulheres do mundo, os pés eram apenas um detalhe muito forte.
O CORONEL
Certa época ele namorou a filha do coronel comandante do 20° Batalhão de Caçadores, quartel do Exército. Ficou apaixonado quando numa competição de natação olhou os belos pés da carioca Marthinha. Paquerou durante semanas até acertar namoro. Contudo, o velho coronel, ex-combatente da FEB na Itália durante a Segunda Guerra Mundial, exercia uma educação rígida. Durante o banho de mar não podiam entrar os dois juntos na água, namoro no portão de casa, dias de terça, quinta, sábado, entrada às 22 horas no máximo. Depois de três meses de namoro, aos domingos, Tavinho era convidado a jogar baralho, sempre o coronel e senhora contra Otávio e Marthinha. Nosso amigo aproveitava, tirava seus pés da sandália, ficava a alisar os pés da namorada por baixo da mesa. Ela gostava, correspondia, uma delícia, ele amava jogar buraco, não pelo jogo, pelo inusitado alisado de pés. Certa vez ele foi ao banheiro, voltou na hora de jogar, abriu suas cartas, olhou o jogo, descartou, num instinto tirou seus pés da sandália, estirou a perna, automaticamente alisou os pés embaixo da mesa. De repente sentiu uma puxada brusca no pé, e um olhar de reprovação do sogro. Ele havia alisado os pés do coronel. Uma semana depois o namoro acabou-se por pressão do pai da moça; até morrer o coronel desconfiou da masculinidade de Otávio.
COMERCIANTE APOSENTADO
Tavinho casou-se com 33 anos. Os pés de Regina, sua esposa há 30 anos, são lindos, ela faz questão de ter uma pedicura especial, conhece bem a fantasia do marido, tem os pés constantemente bem tratados. Otávio gosta de ler, já leu tudo sobre pés. Em seu gabinete de trabalho tem dois quadros montados, fotos de pés femininos belíssimos, embaixo, frases de pensadores: "Os pés são uma obra perfeita de arquitetura, agilidade e potência.” Leonardo da Vinci. "A mulher é um livro. O pé é o índice do livro." Machado de Assis.
Otávio tem uma vida feliz com Regina, ela entende, até gosta de sua mania, nunca foi coisa escondida, não é pecado, questão de preferência. Os dois filhos são casados, dois netos; assumido sessentão. Depois que se aposentou, com o dinheiro da indenização, por sugestão de Regina, ele montou uma loja na Rua do Comércio, uma sapataria. Faz questão de atender pessoalmente aos clientes, principalmente se for a cliente. Tavinho, bom coração, dá sempre um abatimento para as mulheres, o critério é bem pessoal, ele me confessou, o que mais pesa no valor do desconto, a beleza dos pés.
A SANTA
Igualzinho a Djavan, Otávio nasceu na Pitanguinha e foi batizado na capela do Farol, Matriz de Santa Rita, Maceió. Teve uma bela juventude, viveu com intensidade os anos dourados, os últimos românticos da humanidade. Diz o dito popular, cada doido tem sua mania, Tavinho, como é conhecido nas altas e baixas rodas, também tem sua mania, aliás, sua fantasia, seu fetiche, ele é alucinado, tarado, gamado por pé de mulher. Não que seja defeito, entretanto, no caso exagerado de Otávio, tornou-se neura. Certa vez, marcou consulta com um competente psicólogo, depois de muita análise, concluiu, essa obsessão vem de um fato. Ele tinha seis anos de idade, sua zelosa mãe, comprou um quadro, gravura de uma santa descalça pisando em três serpentes, significavam três demônios. Pendurou no seu quarto para protegê-lo. Tavinho em sua inocência ficou impressionado com a gravura, toda noite ele sonhava com serpentes tentando mordê-lo, de repente, apareciam os pés bonitos da santa esmagando as serpentes. Às vezes, ainda hoje, Otávio sonha com os pés da santa. O médico diagnosticou, o sonho tem a ver com o desejo.
FORTE DETALHE
Na beleza e vigor da juventude, jogávamos pelada na areia dura da praia da Avenida da Paz, depois, um mergulho na água morna, transparente, azul-esverdeada e as sombrinhas armadas na areia pelas meninas, nossas paqueras, moças bem comportadas, casadoiras e virgens. Durante o papo descontraído, discretamente olhávamos os dotes anatômicos das jovens, entretanto, Otávio ficava a fitar, hipnotizado, os pés nus das moças brincando com a areia fofa da praia. Não é que, ele não gostasse do restante, pelo contrário, ele foi um namorador, um sedutor, gostava de todas as mulheres do mundo, os pés eram apenas um detalhe muito forte.
O CORONEL
Certa época ele namorou a filha do coronel comandante do 20° Batalhão de Caçadores, quartel do Exército. Ficou apaixonado quando numa competição de natação olhou os belos pés da carioca Marthinha. Paquerou durante semanas até acertar namoro. Contudo, o velho coronel, ex-combatente da FEB na Itália durante a Segunda Guerra Mundial, exercia uma educação rígida. Durante o banho de mar não podiam entrar os dois juntos na água, namoro no portão de casa, dias de terça, quinta, sábado, entrada às 22 horas no máximo. Depois de três meses de namoro, aos domingos, Tavinho era convidado a jogar baralho, sempre o coronel e senhora contra Otávio e Marthinha. Nosso amigo aproveitava, tirava seus pés da sandália, ficava a alisar os pés da namorada por baixo da mesa. Ela gostava, correspondia, uma delícia, ele amava jogar buraco, não pelo jogo, pelo inusitado alisado de pés. Certa vez ele foi ao banheiro, voltou na hora de jogar, abriu suas cartas, olhou o jogo, descartou, num instinto tirou seus pés da sandália, estirou a perna, automaticamente alisou os pés embaixo da mesa. De repente sentiu uma puxada brusca no pé, e um olhar de reprovação do sogro. Ele havia alisado os pés do coronel. Uma semana depois o namoro acabou-se por pressão do pai da moça; até morrer o coronel desconfiou da masculinidade de Otávio.
COMERCIANTE APOSENTADO
Tavinho casou-se com 33 anos. Os pés de Regina, sua esposa há 30 anos, são lindos, ela faz questão de ter uma pedicura especial, conhece bem a fantasia do marido, tem os pés constantemente bem tratados. Otávio gosta de ler, já leu tudo sobre pés. Em seu gabinete de trabalho tem dois quadros montados, fotos de pés femininos belíssimos, embaixo, frases de pensadores: "Os pés são uma obra perfeita de arquitetura, agilidade e potência.” Leonardo da Vinci. "A mulher é um livro. O pé é o índice do livro." Machado de Assis.
Otávio tem uma vida feliz com Regina, ela entende, até gosta de sua mania, nunca foi coisa escondida, não é pecado, questão de preferência. Os dois filhos são casados, dois netos; assumido sessentão. Depois que se aposentou, com o dinheiro da indenização, por sugestão de Regina, ele montou uma loja na Rua do Comércio, uma sapataria. Faz questão de atender pessoalmente aos clientes, principalmente se for a cliente. Tavinho, bom coração, dá sempre um abatimento para as mulheres, o critério é bem pessoal, ele me confessou, o que mais pesa no valor do desconto, a beleza dos pés.
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