ARTE: ARQUITETA CAROLINA LIMA

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quarta-feira, 12 de maio de 2010

HISTÓRIAS DO VELHO CAPITA

                               Pôr-do-sol - Praia do Francês - Marechal Deodoro

CAVALCANTI, O APOSENTADO

DIAS DE ÓCIO



“O ócio é o pai de todos os vícios”, já dizia o doutor Sunda. O Cavalcanti está provando essa tese, boa aposentadoria, Banco do Brasil, não é feito esses miseráveis celetistas que passaram a vida trabalhando e do salário de aposentado sobram trocados após a compra de remédios; sem incluir o viagra.
Cavalcanti, com dinheiro no bolso, sem filho para criar, sessentão em forma, entregou-se ao melhor ócio num velho calção de banho, o dia para vadiar, um mar que não tem tamanho e um mergulho no bar. Senta-se com amigos numa barraca de praia até o sol ir lá pro fim do mundo pra noite chegar. Vez em quando vai à praia do Francês apenas para ver um belo pôr-do-sol, o ócio o fez mais romântico. Muitas vezes chega bêbado em seu belo apartamento na Pajuçara. Helena, sua digna consorte, como diria aquele cronista de frases feitas, fica lamentando, saudades do tempo que Cavalcanti trabalhava. Sentindo-se só, carente, os filhos longe, apegou-se à religião, se tornou convicta evangélica.


VESPERTINA


Cavalcanti quando dá na telha, telefona para alguma acompanhante (eufemismo de rapariga) de jornal, conversa, se gostar leva a moça para uma vespertina, sai feliz da vida, elas sempre comentam ser um coroa gostoso. Em casa também faz tratamento para hipertensão com a esposa, assim mandou o presidente Lula.
Certa vez chegou do Rio um companheiro de Banco, Daniel, aposentado que nem ele, hospedado no Hotel Jatiúca com a esposa. Eles se encontraram, os dois casais foram à praia, almoçaram na Barraca Lopana. Lá para as tantas Cavalcanti recebeu o telefonema de uma sirigaita. Logo bolou um plano. Deixaram as mulheres na feirinha de artesanato da Pajuçara. Os dois descarados, ainda de calção e camisa, foram ao encontro de duas raparigas. Rumaram para o motel, duas suítes.
Daniel e a rapariga embriagada acordaram-se às 23 horas, sem dinheiro, ele tinha deixado camisa e carteira no carro. Interfonou para portaria. Informaram que Cavalcanti já havia saído desde nove da noite. Depois de muito se explicar Daniel conseguiu um táxi, foi para o hotel, a mulher estava atacada dos nervos, berrava sem saber o que dizia. Entregou um gordo envelope cheio de grana ao taxista, fizeram a repartição entre ele, o motel e a rapariga. Cheio de raiva Daniel telefonou para Cavalcanti, o amigo estava de porre sem poder atender. Dia seguinte ele pegou a camisa e a carteira, Cavalcanti esqueceu o acontecido, amnésia alcoólica. Daniel retornou ao Rio. Até hoje sua mulher reclama do marido farrista, ridiculariza Daniel quando pode. E o amigo nada lembra, amnésia.


ENCONTRO


Nas andanças de manhã pela praia, Cavalcanti conheceu uma caminhante, no primeiro dia andaram juntos até à Jatiúca, no outro dia se encontraram, encontro marcado, caminharam, depois ele a levou para uma barraca, ficaram até tarde, muita cerveja, uísque, cachaça e um bom tira-gosto. A companheira Zuleide era boa de cana, mostrou-se boa de cama, nessa mesma tarde tiveram uma peleja de amor num motel. A distinta também era uma tremenda vida torta, morava em Palmares, Pernambuco, botou um belo chifre no marido, foi um escândalo, teve que fugir. Gostou de Maceió, está em busca de emprego, vive à custa do pai, ele não quer sua volta à Palmares envergonhando a família. Cavalcanti estava satisfeito da vida com Zuleide até que um dia ela lhe revelou não poder continuar o namoro. Deus havia lhe chamado para seu destino; tornou-se evangélica depois que ouviu a pregação de uma senhora convincente e eloqüente. Implorou para ele não mais procurá-la. O remédio para esquecer uma mulher é outra mulher, Cavalcanti voltou à raparigagem.


JANTAR


Semana passada Helena pediu ao marido um pequeno favor. Era sua vez de oferecer um jantar para seus colegas de religião e de pregação, pedia por tudo, naquele dia ele não bebesse e respeitasse seus companheiros, sem zombar de orações, sem sua irreverência com religiosos. Na hora do jantar falasse o menos possível, depois ele fosse ver televisão até o povo se despedir. Tudo bem, um dia sem beber não tinha problema, faria a vontade da mulher.
Helena passou a tarde junto com a cozinheira preparando o jantar, 20 comensais, guaraná, coca-cola, bebida alcoólica nem pensar. Os convidados foram chegando sendo apresentados a Cavalcanti, ele bem comportado, como a mulher pediu. De repente Helena abre a porta e aparece uma morena bonita com vestido longo, mangas compridas. Ao ver aquela bela e simples mulher, Cavalcanti não resistiu, saiu um inesperado, incontido e carinhoso grito de sua garganta:


“ - Zuleidinha!!!!!”

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