João Saldanha era um profundo conhecedor das paixões que podem acometer um jogador sob a pressão do treinamento. "Vou segurar o Garrincha?", pergunta ele, falando de sexo. "Muitas vezes, a imprensa faz um sensacionalismo, dizendo que fulano saiu com uma mulher... Digo: 'Ótimo! Queria que ele saísse com homem?'", debochava.
Rigoroso, intransigente, Saldanha conseguia, ainda assim, manter-se extremamente próximo dos jogadores que escolhia. Por mais que fosse turrão, João sabia decidir em sintonia com a massa, percebia o que o público queria ver. Tanto que reverteu o desânimo com a seleção brasileira, que vinha desde a derrota de 66, e começou a lotar os estádios nas eliminatórias de 70.
O rigor, naquela época, a despeito da maior liberdade na concentração, não era pouco. De tão obstinado, Saldanha chegou a impedir a entrada dos jogadores no vestiário no intervalo do jogo com a Venezuela, em agosto de 1969, nas eliminatórias, insatisfeito com o 0x0 do primeiro tempo. Deu resultado: ensopadas de chuva e lama, depois de uma bronca monumental, as Feras do João arrancaram, na etapa complementar, um 5x0 na casa dos adversários, em Caracas, em 1969. Se Dunga não ouve o público, bem que poderia ouvir Saldanha.
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