ARTE: ARQUITETA CAROLINA LIMA

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quinta-feira, 30 de setembro de 2010

HISTÓRIAS DO VELHO CAPITA


A EFICIENTE CABO ELEITORAL

Almeidinha tem dois vícios na vida, política e mulher. Nessa época de eleição ele fica eufórico, está dedicado inteiramente à sua candidatura de Deputado Estadual, entretanto, nos finais das noitadas de carreatas e caminhadas arranja alguns momentos para suas acompanhantes nessa nobre jornada. Candidato pela 8ª vez, mais animado nessa eleição, na de vereador teve 322 votos. Passa o tempo fazendo cálculos, grandes esperanças, ser terceiro ou quarto suplente. Dentro de alguns meses a Polícia Federal realiza outra Operação Taturana, afasta alguns deputados, ele entra como efetivo, pensa Almeidinha. Aposta, sem cerimônia, na Polícia Federal.

Nosso herói tem uma sinecura na Assembléia Legislativa, é advogado, entretanto, nunca deu algum parecer, até porque, não sabe. O que ganha juntando com o salário de Dona Etelvina, outra sinecura na Câmara de Vereadores, digníssima esposa, dá para sustentar a pequena família, dois filhos.

A candidatura de Almeidinha tem outro sutil e confesso objetivo, ficar livre por quatro meses de Dona Etelvina, sua consorte algoz e carrasca. Não dá trégua ao marido, leva-o em coleira curta. Mandona, braba, olhar duro, está escrito em sua testa, perversa! Nosso amigo leva uma vida apertada, a matrona constantemente lembrando o flagrante, não esquece o marido abraçado com a empregada na cama do casal. Etelvina nunca perdoou, vive passando na cara esse pequeno desvio do marido. Se fosse em outro local, logo em minha cama. Repete a mulher, lembrando a famosa surra de panela, humilha o marido na frente de todos.

Na verdade, sem dinheiro, Almeida fez um acordo de dobradinha com um rico deputado federal, ajuda o candidato e fica com um dinheirinho para poucas propagandas e raparigas.

Depois da convenção, ele almoçava em casa com a mulher, tocou o celular.

- Alô! É o Almeida? Aqui é uma fã. Michelle. Lembra?

Ele sem jeito, perto da matrona, ainda escutou.

- Lembra não? Da clínica, sou a Michelle rapaz, a sergipana!

- Não, é engano.

Desligou imediatamente o celular, a esposa quis saber, quem telefonou? Almeidinha conseguiu desviar a atenção. Ficou matutando, quem é essa mulher misteriosa? Conheceram-se numa clínica, qual clínica? Lembrava as clínicas, sem a menor idéia, quem era? Sentiu um discreto charme de vagabunda naquela voz, atiçou mais ainda a curiosidade. Quando a madame saiu para reunião de auto-ajuda com amigas, ele imediatamente retornou ao celular.

- Oi, menina, fiquei curioso, não recordo da clínica onde lhe conheci, mas gostei de sua voz, diga mais detalhes, quero lembrar.

- Rapaz, foi na Clínica de Massagem, aquela do Farol, você me escolheu para dar “massagem”, gostou de mim, voltou duas vezes durante a semana, eu fazia tudo como você queria. Logo depois viajei para minha terra. Sou a sergipana devassa. Lembra como me chamava? A Michelle!

- Virgem Maria! Agora me lembro, querida. Quero lhe encontrar, tenho muito serviço durante a campanha. Como conseguiu esse telefone, não dou para ninguém.

- Foi no seu comitê, no Jacintinho.

Na hora marcada Michelle apareceu com seu charme extravagante e sensual. Almeidinha ofereceu trabalho durante a campanha, receber o povo, anotar os pedidos que nunca seriam atendidos, sair pelas ruas distribuindo santinhos, pegar na bandeira, nas horas vagas, massagem para relaxar.

Foi a grande revelação, Michelle se tornou cabo eleitoral, com uma semana de trabalho, ela providenciava, coordenava tudo, santinho, bandeiras, carro de som, uma líder. Quem gostou foi o Deputado, federal, não só do trabalho no campo, também o da cama. Michelle mostrou competência, tem um jeito nato de tratar o povo, de atendimento aos necessitados em busca de um óculos, ou telha ou tijolo. Ela sabe conversar, tem ótima comunicação, dá sempre uma esperança para esse povo sofrido. Excelente no corpo-a-corpo. O Federal gostou da menina, passou a perna no amigo, prometeu emprego para nova e bela trabalhadora, vai comandar seu escritório de atendimento ao eleitor depois da eleição.

Almeidinha não se importou, até gostou, na esperança de uma sobra com a bela “massagista” promovida a eficiente cabo eleitoral.

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