ARTE: ARQUITETA CAROLINA LIMA

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sábado, 9 de outubro de 2010

CRÔNICA DE RONALD MENDONÇA


PROFISSIONAIS, NÚMEROS E CONCHAVOS

RONALD MENDONÇA

MÉDICO E PROFESSOR DA UFAL

Tancredo Neves, sem lançar mão de um canivete, foi, junto com Ulisses, Teotônio, Brizola, e Montoro, dentre outros, o grande artífice do retorno do país à normalidade democrática. Candidato das oposições, foi-lhe perguntado como esperava derrotar Paulo Salim Maluf (o escolhido pelo partido dos generais), no Colégio Eleitoral. A dúvida era consistente. Maluf vinha de uma sucessão de vitórias, inclusive conseguira humilhar o articulado Laudo Natel, em São Paulo. Tancredo admitiu que ia ser difícil, mas logo acrescentou: “O Maluf nunca enfrentou um profissional.”

Lembrei-me do episódio ao ler a entrevista, nessa Gazeta, do deputado (eleito senador) Benedito de Lira, o Biu Lira, cuja ginga deu um baile na contundente Heloísa Helena e deixaria Renan Calheiros comendo poeira. Dizem que HH morreu do próprio veneno: a mesma boca vociferante teria exagerado na dose. Ou seja, o mesmo discurso que a elevou aos píncaros, carregou-a para a vala dos chorões dos derrotados. Talvez, pela primeira vez, ela tenha enfrentado um verdadeiro profissional. De fato, discutir com o boneco Cabeça foi tarefa inglória.

Os números do pleito não mentem, mas podem ser usados ao bel prazer. Em Alagoas, não obstante a expressiva dianteira de Teotônio Vilela, as oposições podem dizer que 60% do eleitorado não o contemplaram como primeira opção. Mutatis mutandis, no plano nacional, apesar do frenético apoio de Lula, Dilma Rousseff foi reprovada nas urnas por mais da metade da população.

Em Maceió, dona Dilma amargou inesperado insucesso. A bem da verdade, nossos conterrâneos seriam conservadores (ou, segundo as esquerdas, não saberiam votar, reacionários). Com efeito, os votos dados ao PSOL, PCO e outras siglas do mesmo naipe, são dignos da compaixão publica.

Mas o momento, como diria HH, é de lamber as feridas. Mas também é a hora das alianças. É nesse cenário de incertezas (claro que os candidatos mais votados no primeiro turno têm mais chances) que surge a figura de Marina Silva. Com um patrimônio de vinte milhões de votos, a ex-seringueira é uma força. Contudo, está longe de ter o poder de transferir todo esse cabedal.

Nota dissonante, segundo a imprensa, nem o PV de Marina escapa da gana de ganhar ministérios na base de acordos e conchavos, vendendo sua marca. Entre nós outros, a justa preocupação é a perspectiva de retorno de quadrilhas aos comandos de secretarias chaves, moedas de troca no vale-tudo eleitoral.

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