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quinta-feira, 23 de julho de 2009

HISTÓRIAS DO VELHO CAPITA - Carlito Lima


A RIVAL

Pablo e Ana Maria são amigos desde meninos, seus pais eram vizinhos em um condomínio chique no bairro do Farol. As crianças se davam bem, brincavam nos verdes jardins e praças, Aninha chegava a jogar bola e Pablito brincava de bonecas, sempre juntos, foi uma infância bonita, correndo e andando de bicicleta pelas ruas bem cuidadas e seguras do condomínio.
Durante a adolescência iniciaram o namoro. Todos comentavam a beleza daquele jovem casal, o carinho de um para outro, coisa bonita de se ver.
Pablito fez vestibular para a Academia da Força Aérea de Pirassununga em São Paulo, era entusiasmado com carro, avião, helicóptero, se pudesse ia ser astronauta. Uma alegria quando passou no vestibular, viajou para São Paulo, foi iniciar sua carreira de aviador.
Todo o dia escrevia para sua Aninha, sua inspiração, sua musa; maior alegria quando chegava carta da amada, logo depois apareceu a internet e comunicavam-se via e-mail. Dentro da Academia seus colegas brincavam, debochavam de sua fidelidade à Aninha, nem sequer à zona das raparigas o cadete Pablo comparecia para dar vazão aos instintos.
Ao terminar o curso, Pablo foi servir na Base Aérea do Recife, todo fim-de-semana viajava para Maceió, às vezes em voo de treinamento.
Afinal o casamento, não precisou noivado, eram noivos desde meninos.
Foram morar no Recife, em cinco anos apareceram três lindos filhos, homens. O casal estava em plena fase de felicidade conjugal, atravessando os sete primeiros anos, quando houve o acidente. Ninguém, até hoje, tem certeza se foi pane no avião militar ou se foi descuido do piloto na aterrizagem. O avião de Pablo deu uma inclinada, rodopiou, fugiu do controle do piloto, foi se estatelar num muro bem distante da pista. Pablo sofreu ferimentos graves, inclusive na cabeça, internado no Hospital da Aeronáutica, depois transferido para Brasília. Foi preciso muito tempo de fisioterapia, Pablo está recuperado, não pode pilotar, a Aeronáutica o reformou como Capitão, hoje, ensina Física e Química em Colégios e Faculdades de Maceió.
Nos últimos anos houve mudanças de comportamento, conseqüência da perda de massa encefálica no acidente, Pablo não é mais o amante apaixonado, dedicado exclusivamente à sua Aninha.
Todos os sábados, às vezes dia de semana, freqüenta bons bares da orla, gosta de apreciar o mar, contar suas histórias do tempo da Aeronáutica, para muitos é um verdadeiro herói. Depois de encher a cara, geralmente é levado embriagado para casa pelos amigos.
Acontece que nosso herói foi aos poucos, espontaneamente, deixando de procurar as loucuras de amor com sua mulher. Cada vez o intervalo de tempo foi se espaçando, Aninha se dedicava aos filhos, mas sentiu falta do carinho, do sexo gostoso que faziam habitualmente. Nessa fase coincidiu dele beber mais e sair com amigos chegando altas horas, sem sequer pronunciar uma frase. Aninha perdoava por conta da frustração de um ideal de vida, conseqüências do acidente.
Até que um dia Aninha desabafou com uma prima, Pablo não transava há mais de quatro meses, contou chorando para amiga, estava desorientada, sem saber o que fazer. A amiga aconselhou contratar um detetive. Aninha ficou perplexa, será que Pablo tem uma amante, eu tenho uma rival?
Psicótica, só pensava nessa suposta mulher, como seria, loura, morena? Não conseguia dormir direito, sonhava com mulheres nuas, tinha pesadelos. Amava demais o marido, não estava agüentando uma rival repartindo o amor de Pablo. Afinal tomou coragem contratou um investigador
Duas semanas depois, Audálio, o detetive, telefonou marcando encontro com Aninha, tinha fotos acusadoras, provas cabais de traição. Em uma sala de um velho prédio no centro da cidade, antes de entregar o envelope pardo com as fotos, Audálio preveniu, a senhora vai ter a maior decepção de sua vida, vá preparando o espírito, seu marido não é de uma só mulher, sai com várias, gosta mesmo é de meninas de programa.
Aninha puxou devagar várias fotos, ao perceber Pablo conversando, entrando no motel com diversas mulheres, deu uma risada nervosa, falou baixinho para si mesmo: “o coitado gosta de sair com raparigas, o que importa, tenho certeza, é que ele me ama, sou a única mulher de Pablo.” Levantou-se, se recompôs, pagou ao detetive, colocou o envelope pardo na bolsa, saiu da sala feliz, sorrindo, Pablo não tinha amante! Ela era a única! Não havia a rival!

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