ARTE: ARQUITETA CAROLINA LIMA

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quarta-feira, 19 de agosto de 2009

HISTÓRIAS DO VELHO CAPITA


O XEXEIRO

George naquela época era estudante, como não podia pagar rapariga, recorria à conversa, exímio namorador de quenga, algumas vezes, teve que recorrer à instituição alternativa do “xêxo”. Para quem não sabe, xêxo é o mesmo que não pagar, não honrar o compromisso de gratificar a merecedora recompensa pelos serviços prestados, pelos momentos de prazer de uma mariposa do amor. Esse pagamento é considerado sagrado em todos os lugares, em todas as épocas, abalizando a profissão mais antiga da humanidade, a prostituição. George não fazia por mal, quando via aquelas meninas com roupas provocantes, enchia a cabeça de fantasia e inconseqüentemente convidava a rapariga, mesmo sem um tostão no bolso, para uma jornada horizontal.
Certa vez, no início de uma noite de verão, vésperas de carnaval, de repente apareceu o bloco Cavaleiro dos Montes comandado por Rás Gonguila na Avenida da Paz. George agarrado com uma moça fazia o passo atrás do bloco que se dirigia à zona boêmia. Na Praça Dois Leões retornou, quando o bloco passava pelo corredor de Jaraguá, a moça, “inquilina” da Boate Night and Day, prontamente convidou-o, subiram para o lupanar no belo casarão antigo. George não teve dúvida, de paquera com a morena no bloco, achou-se no direito de ir para cama. Sentia-se namorado, mesmo liso, sem um centavo, foram para o quarto. Depois de certo tempo, depois de duas rodadas de louco amor, ouviu-se uma gritaria. George, quando a menina cobrou, disse não ter dinheiro, pensava ser de graça. Ela gritou braba, tratasse de arranjar a grana, ao mesmo tempo, juntou calça, cueca, camisa e sapato de George, entregou ao Leão de Chácara (hoje segurança), só devolveria quando pagasse o serviço prestado.
George não teve dúvida, ainda nu, abriu a porta do quarto de tabique, saiu em disparada, descendo a escada num pulo, enquanto a rapariga gritava: “Xexeiro, Xexeiro... Filho de uma puta!!! ”, enorme escândalo. O Leão de Chácara correu atrás de nosso amigo, entretanto, não conseguiu alcançá-lo, um atleta, excelente jogador de futebol de salão.
Sua explícita nudez foi notada pelos passantes, incrédulos, vendo um homem nu em disparada. George continuou correndo pela rua até desembocar na Avenida da Paz, ao dar de cara com as rodas de famílias conversando nas cadeiras da calçada, como era costume antes do advento da televisão, George escondeu-se, como pode, atrás de um poste, olhou para o calçadão. Meninos brincavam de garrafão, andavam de bicicleta, os mais velhos namoravam nos bancos. A Avenida da Paz, à noite, era uma festa. Nosso herói raciocinou rápido, só havia uma saída, correu em direção à praia iluminada, bela noite de lua cheia. Depois de andar pela areia fofa, branca e solta, encontrou um tapete de areia dura, molhada, onde uma turma de meninos jogava futebol sob o luar. Ao se aproximar, a meninada percebeu e gritou: “Um homem nu! Um homem nu!”. George correu, mergulhou no mar de água tépida, morna como são nas noites do verão nordestino. Ele ficou por muito tempo curtindo aquele gostoso banho de mar noturno, deixava seu corpo nu, boiando, ser levado pelas pequenas ondas, não havia pressa. Naquele momento, olhando o céu, a praia, e o mar, prateados pela Lua cheia, ele se sentiu dono do mundo, do universo, poeta, seresteiro, ficou a cantar sozinho, no seu encantamento: “A estrela Dalva... no céu desponta... e a lua anda tonta... com tamanho esplendor... e as pastorinhas pra consolo da lua... vão cantando na rua... lindos versos de amor...”.
Por volta das dez horas da noite as famílias entraram, os jovens jogadores foram se deitar. George esperou até às 11 horas, apenas alguns boêmios passavam andando em direção aos lupanares de Jaraguá, hora de dar expansão aos instintos e fantasias. Nosso herói saiu do mar, corpo molhado, dedos engelhados. Sentia o vento, tremia de frio, depois de pular na areia dura, recuperou-se do frio. Andou pela praia, retornou à calçada, a rua estava deserta.
Correndo de poste em poste ele conseguiu chegar à sua casa na Rua Boa Vista. Recebeu o devido corretivo do pai, que no fundo se orgulhava em ter aquele filho boêmio, cheio de histórias e picardias.
No outro dia, George me procurou, contou sua história, pediu-me dinheiro emprestado para pagar a rapariga, limpar seu nome no puteiro, apanhar seus pertences. Meu amigo agradeceu o empréstimo, foi feliz da vida pagar sua dívida, pegar suas roupas. Até hoje não me reembolsou. Passou-me um xêxo.

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