ARTE: ARQUITETA CAROLINA LIMA

Um Blog feito pelos leitores

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

HISTÓRIAS DO VELHO CAPITA


O SEQUESTRO
Ao se aposentar Rui construiu uma casa à beira-mar na praia de Paripueira, onde vive feliz com a esposa. Numa sexta-feira, como de costume, ele saiu às cinco da tarde para o supermercado. Dirigia devagar o Honda-Fit, ao passar pela estrada em Ipioca, notou ao longe uma mulher pedindo carona. Rui freou o carro em frente à moça. A loura de cabelos escorridos, perguntou: “Vai para Maceió?”. Ele abriu a porta do carro. A menina entrou, sentou-se com uma classe de dama inglesa, parte de sua perna aparecia por entre a abertura lateral do vestido preto. Conversaram amenidades. Ele se emocionava ao olhar de esguelha as pernas da moça. A caroneira aparentava 25 anos, disse que era do Recife. Tinha vindo para a audiência de sua separação. Havia seis meses que abandonara o marido, por lhe dar uma surra. O papo se prolongou.
Ao passar pela praia de Cruz das Almas, ela extasiada e embevecida com o pôr-do-sol, pediu para parar um pouco e apreciar o mar, e o céu que estava rubro-alaranjado. Rui estacionou o carro no coqueiral à beira-mar. Depois de uma descontraída conversa, a menina virou-se, encarou Rui, alisou seu rosto, os cabelos grisalhos e sussurrou: “Você é um homem bonito, quero lhe beijar”. Rui se assustou quando a menina juntou os lábios carnudos e molhados aos seus. Ele não acreditava no que estava acontecendo. Nem imaginava o que viria acontecer.
Entre beijos inebriantes e carícias, de repente, Rui sentiu um metal frio na nuca e escutou uma voz rouca no ouvido: “Não se mexa, senão eu atiro, é um assalto”. Homem experiente Rui pediu com calma, sem olhar a cara do assaltante: “Pode levar tudo, o carro ou que quiser; não nos mate, por favor!”
Colocaram Rui em uma Pajero, ele percebeu que havia uma assaltante quando alguém amarrou uma venda e o algemou, ameaçando, que obedecesse sem falar, senão atirava. Deitaram Rui no banco traseiro e levaram a menina em outro carro. Partiram, deram muitas voltas. Ele perdeu o direcionamento de onde estava. Depois de percorrer estradas por mais de uma hora, finalmente o carro parou, ouviu um portão se abrir, o carro entrou devagar. Rui estava nervoso, amedrontado. Ao parar, escutou uma voz feminina: “Sabemos quem é o senhor, estamos lhe seguindo, pode deixar que nada vai acontecer se cooperar”. Rui teve um susto e até alívio quando ela continuou: “Acalme-se, queremos pouca coisa, ninguém vai morrer, queremos apenas uma noitada com você e sua namorada, mais nada. Esse é o motivo do seqüestro. Quero que você se acalme. Vou lhe tirar a venda”.
Nesse momento conheceu sua seqüestradora, de máscara tipo zorro, mulher bonita morena e madura. Ela explicou, tudo aquilo fazia parte de um jogo, a emoção solta os hormônios, dá mais excitação. A morena esclareceu, estavam num sítio cheio de seguranças. O melhor para ele, era obedecer às ordens. Mandou sair do carro. Entraram por uma porta de fundo de garagem. Dava para um quarto esplendoroso. Parede rosa, decoração exótica, marroquina, panos e cortinas caindo e uma enorme cama redonda no centro cheia de travesseiros. A seqüestradora, ainda com um revólver na mão, pediu para ele entrar no banheiro, deu-lhe toalha, mandou tomar um banho morno, entregou-lhe uma pílula azul com um copo de água, tomasse a pílula para facilitar os serviços que iria prestar. Rui mais tranqüilo, ainda espantado, tentava acreditar no que estava acontecendo. Seria um sonho?
Ao sair do banheiro ficou surpreso em ver sentadas na cama: a seqüestradora, outra morena de máscara zorro aparentando 45 anos e a sua “namorada”, que se levantou sorrindo, sussurrou no ouvido: “Desculpe meu amor, agora vou lhe recompensar”. Logo se descontraiu. Foram quatro horas e meia de amor.
As seqüestradoras disseram que tinham adorado a noitada, mas que ele não fizesse a bobagem de ir à Polícia. Tinham fotografias de Cruz das Almas para mostrar à sua mulher. Poderia contar a aventura apenas aos amigos. Rui novamente foi vendado, entrou num carro, percebeu que era o seu. O motorista deu o arranque e muitas voltas, uma hora depois, deixou-o em um local ermo.
Já fazem três meses do seqüestro. Rui sonha, só pensa naquela inesquecível noite. Quer rever suas algozes, quer ser de novo abusado. Toda sexta-feira, às cinco da tarde, passa pela estrada de Ipioca, olhando, procurando algum sinal, alguma pista das belas seqüestradoras.

Um comentário:

José Pereira disse...

Por um momento cheguei a pensar que a história fosse verdadeira.
Eu toda vez qu eandar em ipioca vou olhar bem pros lados.