Durante a última campanha eleitoral, Reinaldo, candidato a deputado estadual, convidou-me para acompanhá-lo numa viagem ao sertão, um fim de semana em contatos políticos. Não me fiz de rogado, até gosto dessas viagens, dos embalos de campanha, ademais, o candidato é um amigo, e amigo é para essas coisas. Afinal temos que nos esforçar para melhorar o nível da Assembléia Legislativa ou pagaremos um preço caro em não se acreditar mais na democracia. A mais justa e mais difícil forma de governo existente na humanidade contemporânea.
Reinaldo é um excelente técnico, engenheiro agrônomo, dedicado, aperfeiçoado em engenharia sanitária, ajudou muito à população rural cuidando de febre aftosa, e resolveu problemas urbanos ambientais, em seus cargos públicos. Ainda pela manhã do sábado partimos para os primeiros contatos, o destino final era a bonita e aprazível cidade de Olho D’Água das Flores, terra da Soninha dos Anjos. Passamos primeiramente em Santana do Ipanema, bela cidade sertaneja, berço de homens e mulheres de fibra, intelectuais e políticos. Durante o almoço, de repente, apareceu um bando de mulheres bonitas, entre elas, Daniela, uma paquera de Reinaldo, ele é solteiro, jovem, vive à procura do amor de sua vida. A moça de pele macia, morena, dois olhos verdes acinzentados, trouxe a bela mãe ao lado, pareciam irmãs. Eurídice, a mãe, enviuvou cedo, entretanto, notava-se uma grande alegria de viver refletida em seus expressivos olhos verdes, pareciam duas ximbras, duas contas pequeninas. Foi Maurício de Nassau e outros holandeses, que espalharam esses belos olhos, miscigenando o sertão nordestino nos séculos passados.
Depois do almoço as mulheres marcaram encontro no Clube Olhodaguense, o baile começava pelas nove da noite. Passamos a tarde visitando cidades, vilas e fazendas. Aonde chegávamos havia comida e bebida à vontade, carne do sol, buchada de bode e muita cachaça. Candidato que se preza, jamais pode deixar de beber e comer em cada local visitado. O uísque na fazenda do Dr. Tenório e a divina comida do vereador em Poço das Trincheiras, deixaram todos cansados e meio bêbados. Era perto das nove da noite quando partimos para Olho D’Água das Flores. Ao chegar à cidade, eu estava me preparando para dormir num hotel à beira da estrada, mas a insistência de Reinaldo ganhou, parti também para a festa.
No Clube Olhodaguense houve uma simpática e acalorada recepção, nos colocaram em uma mesa especial, rodeados de vários políticos locais, mesa farta como são todas as mesas sertanejas. Ambiente de boate, luzes escuras, um conjunto tocava música suave, ótimo para conversar, papo descontraído.
De repente Reinaldo notou, alguém o chamava, reconheceu de longe a paquera. Pediu licença, ia dançar mesmo cansado e com teor etílico já ultrapassando o limite. Cumprimentou a dama, puxou-a levemente pelo braço, arrastou-a para o salão. A música suave fez trazê-la mais junto, corpo a corpo, houve certa resistência no início, mas logo depois os dois dançavam como se fosse apenas um corpo. Entre os dois não passava um raio de silibrina. Dançavam juntinhos, bem agarradinhos. Aconteceram algumas carícias, um cheiro, um beijo no cangote, lambida nas orelhas. Os dois ficaram num gostoso abraço dançante, mudos, esfregaram-se por mais de meia hora ao som choroso de um metálico sax. Sentindo o volume nas pernas, ela se entregou, apertou mais ainda o seu par, cochichava apenas no ouvido: “Loucura”.
Em certo momento, de repente, sua parceira parou, afastou o corpo, deixou-o encurvado para disfarçar o efeito do abraço dançante. Ela olhou fixamente para Reinaldo, sorriu, falou docemente: -“Pronto, está bom! Foi ótimo. Agora vá dançar com sua namorada, Daniela acabou de chegar, Adorei o beijo no cangote, é nosso segredo”. Sorriu, se afastou. Foi quando Reinaldo percebeu, com certa alegria, estava dançando agarrado, beijando, lambendo as orelhas de sua magnífica, estonteante e exuberante, sogra.
Nenhum comentário:
Postar um comentário