ARTE: ARQUITETA CAROLINA LIMA

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domingo, 29 de novembro de 2009

HISTÓRIAS DO VELHO CAPITA


PEDRO PEDREIRO

O fato se deu na época em que fui construtor. Certo sábado à tarde, Pedro, um jovem pedreiro, resolveu adiantar um trabalho, serviço extra de assentamento de pastilhas na fachada no Edifício Pratagy. De repente escorregou; como estava sem os equipamentos de segurança recomendados, deu-se o desastre, caiu do quinto andar. Teve sorte. Alguns andaimes abaixo amorteceram a queda, Pedro caiu em um monte de caixas de papelão e areia fofa. A pancada foi grave, os colegas o levaram para o Pronto Socorro. O mestre-de-obras telefonou-me contando o ocorrido, fui imediatamente ao Pronto Socorro. O médico afirmou ter sido um milagre, Pedro estava cheio de escoriações, hematomas, vários ossos quebrados. Havia ainda outro problema, um fato inusitado devido à pancada na cabeça, deu-se um priapismo em Pedro. Em minha santa ignorância perguntei o que era priapismo. O médico esclareceu: “priapismo é ereção persistente e constante do pênis”. Fui olhar o acidentado, Pedro estava enfaixado, engessado por suas múltiplas contusões. O levantar do lençol dava para perceber o que era priapismo. Pedro foi transferido para uma Casa de Saúde, corpo todo engessado, apenas uma parte livre, firme, dura.
Na terça-feira um jornal noticiou o acidente insinuando falta de segurança da construtora e destacando o inusitado, o incrível priapismo. A partir desse dia, Pedro não teve mais sossego. Foi visitado por curiosos e por gente interessada em estudar o fenômeno. Estudantes de medicina acompanharam o caso diariamente, algumas meninas foram de extrema dedicação, até davam plantão à noite. Um boiola morador da pensão do Zeiga se mostrou solícito, sempre que possível dava assistência com muito carinho ao doente. Duas beatas de uma igreja, quando souberam do acontecido, entraram nessa corrente de bondade, dando seu sacrifício para confortar o pobre Pedro, pedreiro.
Os dias passaram. Pedro foi se recuperando dos ossos quebrados, mas o priapismo continuou desafiando a medicina mesmo com todas tentativas das voluntárias. Contrataram algumas garotas da Boate Areia Branca do famoso Mossoró, tentaram, entretanto, não conseguiram amolentar. Pedro já se sentia incomodado com tanta gente caritativa dando conforto e outras coisas.
Depois de 46 dias e 45 noites de ininterrupta rijeza, alguém lembrou de contratar uma mãe-de-santo, uma macumbeira. Sem que os médicos soubessem, certa noite levaram Dolores Sierra, ex rumbeira do Circo Garcia, também trabalhadora em várias casas noturnas de Maceió. Ficou famosa na zona pelos seus dotes e serviços completos sem nunca ter lido o Kama-Sutra. Quando seu corpo já não dava para dançar nos tablados, nem nas camas, Dolores partiu para o esotérico, tornou-se uma mãe de santo das mais procuradas e conhecidas.
Explicaram qual o trabalho. Ela pediu para ficar só com Pedro dentro do apartamento, entrou com ramos e óleos de benza, trancou a porta por dentro. Os amigos ficaram apreensivo, mesmo com a cumplicidade do enfermeiro, filho de santo, tinham medo que algum médico flagrasse. Mais de 40 minutos se passaram, de repente ouviram um barulho como se fosse um baque no chão. Bateram na porta e gritaram para abrir. Dolores Sierra abriu a porta, saiu toda faceira, sorria maravilhosamente com a cara mais desavergonhada. Dentro do quarto, Pedro caído, deitado no chão, satisfeito da vida, vibrava, olhando a parte afetada, comemorava: “Conseguiu, conseguiu, viva Dolores!”
O caso do priapismo foi discutido em seminários. Os esotéricos acham que a cura foi devido à macumba. Os mais científicos dizem que foi a nova pancada da cabeça no chão com a queda da cama. Os boêmios, os conhecedores da vida e dos serviços de Dolores, têm certeza que foi seu trabalho de cama, sua especialidade, o “frango-assado” que ela fazia divinamente. Mestra no ofício.

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