ARTE: ARQUITETA CAROLINA LIMA

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quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

HISTÓRIAS DO VELHO CAPITA


TUDO BEM NO ANO QUE VEM

Uma peça de Bernard Slade, “Tudo bem no ano que vem”, fez sucesso no Rio de Janeiro com a bela atriz Glória Menezes. Essa peça também foi adaptada para o cinema, comédia romântica, como o povo gosta. História simples de um homem e uma mulher que se encontram por acaso num hotel. Embora ambos sejam casados, eles se vêem na mesma cama na manhã seguinte e discutindo como aquilo foi acontecer. Mas tudo foi maravilhoso e eles concordam que irão se encontrar naquela mesma semana, em todos os anos. Dão início a caso amoroso que os manterão juntos pelos próximos 26 anos, sempre no mesmo lugar e na mesma data. Conforme o tempo passa, acontecimentos na vida de George e Doris causam um impacto especial no romance anual alimentado por eles. No decorrer deste relacionamento é traçado um perfil das mudanças ocorridas na América desde a metade do século XX. Um filme delicioso de infidelidade conjugal.
A vida, às vezes, costuma imitar a arte. Nos anos 80 vivia por essas praias uma moça muito bonita, cheia de charme de nome Cecília, morena de olhos verdes, chamava atenção sua beleza, todos os rapazes queriam paquerar, namorar Cecília, entretanto, ela tinha uma paixão, Getúlio, um estudante de jornalismo, inteligente, alegre e boêmio. Um dia os dois se cruzaram, foi amor elétrico, se encontravam nos bares, nos mares, faziam o casal mais bonito da paróquia. Tinham um problema, gênios fortes ciumentos, brigavam muito. Certa vez, houve um congresso de cardiologia na cidade, ramo pretendido por Cecília na medicina, ela frequentou assiduamente as palestras, o congresso. Nessa época o casal estava brigado, terminado, Cecília paquerou um médico do Mato Grosso do Sul durante a semana. Acabou-se o congresso, Belgrano, o jovem médico, continuou telefonando, escrevendo. Apaixonou-se pela morena nordestina. Durante um feriadão, veio ver o amor, matar saudades. Ela se formava no final daquele ano. Houve uma proposta intempestiva do jovem cardiologista, casamento logo após a formatura. Era fazendeiro, tinha muitas posses. Cecília hesitou, pediu um tempo, queria pensar, ver Getúlio, conversar com a família. Jogou tudo na balança, o prato pendeu para a razão, o coração perdeu.
Foi um casamentão na Catedral Metropolitana, as socialites da cidade disputaram convite. A recepção ficou inesquecível, ainda hoje há quem se lembre, mereceu página inteira das cronistas sociais, Lílian Rose e Maria Cândida. Foram morar em Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, num enorme apartamento, com direito a curtir os fins de semana numa bela fazenda.
O tempo passou, vieram dois filhos. A família nunca deixou de viajar nas férias a Maceió. Depois do Natal, passam o ano novo e o mês de janeiro curtindo as praias das Alagoas. Belgrano volta mais cedo, são muitos os negócios, além da medicina.
Quando terminou o século XX, em 2000, houve festa de ano novo na casa de um amigo na praia do Francês, depois de visitar o belíssimo sítio histórico da cidade de Marechal Deodoro, foram para casa do amigo festejar o novo século, o novo milênio. Quando bateu meia-noite os fogos pipocaram, os champanhes borbulhavam nas taças, abraços e beijos, a alegria se estendeu por toda casa. De repente os olhos se cruzaram, Getúlio e Cecília, os dois se viram, se emocionaram, um sentimento forte bateu de repente, como se acendesse uma fogueira. Os olhos não se desgrudaram durante pelo menos um minuto. Cecília se aproximou, deu um abraço, desejou feliz ano novo. Getúlio ficou estático, disse instintivamente, “eu sempre lhe amarei”. Cecília ficou o resto da noite perturbada, longe, pensando naquelas quatro palavras.
O destino tem seus caprichos, suas armadilhas, logo depois de Belgrano viajar, uma outra festa fez os dois se encontrarem, mesmo com todo esforço, mesmo com todo o controle, Cecília disse que estava hospedada na casa do pai, sozinha, seus filhos também viajaram. No outro dia marcaram encontro, Cecília quis reagir, quis ser racional, vivia bem sem atropelos, mas o coração tem razões que a própria razão desconhece, disse o poeta. Cecília disse para si mesmo, precisava se testar, entretanto, não passou na prova, terminou a tarde num motel nos braços de Getúlio. Conversaram muito, se amaram muito, Getúlio também casado. No outro dia Cecília viajava, marcaram encontro para o outro ano. Desde essa época, regularmente se encontraram no mês de janeiro, numa boa, sem remorsos. Em 2010 farão 10 anos de infidelidade conjugal. Todo ano, como na peça de Bernard Slade, se despedem dizendo um ao outro, “Tudo bem no ano que vem”.

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