ARTE: ARQUITETA CAROLINA LIMA

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quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

SEBASTIÃO NERY

PROCURANDO TONICO
MACEIÓ – Coronel Rodrigues era chefe político de Penedo, cidade histórica aqui de Alagoas, nas barrancas do São Francisco, perto de onde o rio mergulha no mar. Coronel dos de antigamente: bom sujeito, boa prosa, bom garfo. E tinha o filho Tonico, menino levado que passava o dia jogando sinuca no bar da praça, mas era seu orgulho.
Um dia, Tonico virou a cabeça e sumiu atrás de uma trapezista do Circo Garcia. Seu Rodrigues quase morre de desgosto.Não saía, não jogava mais biriba com os amigos, triste e amuado em casa, como um boi velho. Três anos depois, seu Rodrigues recebeu a notícia: Tonico tinha morrido em um desastre em Goiás. Entrou no quarto, passou um dia e uma noite chorando de saudade e magoa e deixou pra lá.
PENEDO
O tempo passou, todo mundo esqueceu, Tonico não era mais assunto em Penedo. O velho coronel de quando em vez ia buscar atrás da cômoda o retrato do menino ingrato, que ganhara o vão do mundo com a trapezista loura de pernas grossas e recebera seu castigo na curva da estrada.
De repente chega do Rio um amigo:
- Coronel Rodrigues, vi o Tonico lá. Era ele mesmo. Conversei com ele, não volta porque tem vergonha. Nem o endereço quis dar.
O coronel dormiu duas noites de olho aberto, vendo a cara envergonhada de seu menino fujão. Arrumou a mala, pegou o ônibus.
CORONEL
Passou dias e noites na estrada para o Rio. Desceu na rodoviária, aquele mundão de gente. Estava tonto e perdido. Viu um guarda:
- Seu guarda, o senhor sabe onde mora Tonico Rodrigues, de Penedo?
- Sei, sim. Na rua Senador Pompeu, na mesma pensão em que moro.
- Me leva lá que Tonico deve estar sem dinheiro para pagar a pensão. Já faz uns dias que ele sumiu de Penedo.
GOVERNADOR
Alagoas está procurando um governador como o coronel Rodrigues procurou seu Tonico. Já sem esperança.Todo mundo quer ser senador. Governador, ninguem. O governador Teotônio Vilela filho é candidato à reeleição por dever de oficio. Se não disputasse mais quatro anos, estaria dando argumentos à oposição que o acusa de não gostar de trabalhar.
O prefeito de Maceió, Cicero Almeida, depois de uma administração consagradora, gostaria mesmo era de ser senador. Mas todo mundo o está empurrando para enfrentar o governador e lhes deixar as vagas do Senado.
Ele tem medo do interior,porque, alem da capital,não tem bases municipais.
E até agora não apareceu mais ninguem para disputar o palacio.
SENADO
Já para o Senado é uma fieira de gente. São duas vagas e logo de saída há duas candidaturas quase com direito adquirido : o senador Renan Calheiros, chefe do partido mais forte do Estado, com maior numero de prefeitos e vereadores, o PMDB, e a ex-senadora Heloisa Helena, com o menor dos partidos, nacionalmente e no Estado, mas com sua poderosa e flamejante liderança, que amedronta os demais possíveis candidatos.
E os demais são muitos demais para duas vagas só: o ex-governador Ronaldo Lessa, vindo de dois conturbados mandatos, mas que de qualquer modo deixaram seu nome plantado na memória popular; o ex-senador e ex-deputado João Lyra, o homem mais rico do Estado, derrotado na ultima eleição mas determinado a disputar de qualquer maneira; o deputado Benedito de Lyra, presidente de partido e muito solido no interior; o senador João Tenório, suplente e cunhado do governador; e candidatos do PT, do PC do B, do DEM e de outros partidos fracos no Estado.
COLLOR
E resta o grande enigma, Fernando Collor. Já senador, com mais quatro anos de mandato, evidentemente não sairá para o Senado. É a pedra da vez para o governo, com um governador desgastado e um prefeito sem nome estadual. Mas ninguem sabe se Collor vai querer entrar nessa briga, com um Estado tumultuado, humilhado, dividido,sem dinheiro,sem sonhos.
Até onde conheço a política de Alagoas e a garra de Collor, ele pode repetir 2006. Ficar fora da campanha, deixar todo mundo se esguelar, se desgastar, se sangrar, e, na ultima hora, no ultimo mês, sair candidato a governador atropelando tudo, só “ele e o povo contra o resto”.
Foi exatamente o que fez em 2006 para o Senado. João Lyra dormiu eleito, quando acordou Collor havia ganho a eleição, numa disparada de exatamente 28 dias em cima de um helicóptero, visitando todas as cidades, todos os grandes distritos, passeatas e comicios todo dia, toda noite.
Alagoas está esperando seu governador como o coronel Rodrigues esperava seu Tonico. Já quase sem esperança, mas sempre com esperança.
“A NUVEM”
Livro é como boi no pasto ou banana na feira. O dono tem que cuidar. Continuo minha maratona nacional lançando meu ultimo livro, “A Nuvem, o Que Ficou do Que Passou – 50 Anos de Historia do Brasil”.
Em um mês só, o de dezembro, a primeira edição acabou. A segunda edição já está em todas as livrarias. Afinal fiquei livre da pressão e justas reclamações de amigos e leitores, que procuravam e não encontravam.
Amanhã, aqui em Maceió, a partir das 17 horas, na praça Gogó da Ema, Orla da Ponta Verde, na entrega do “5º Premio Espia Aos Notáveis da Cultura Alagoana”, organizada por Carlito Lima, autografarei “A Nuvem”.
www.sebastiaonery.com.br

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