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terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

A CRÔNICA DE SEBASTIÃO NERY

Sebastião Nery autografando seu livro A NUVEM na Praça Gogó da Ema em Maceió, junto ao jornalista José Ademir
A candidata da mentira

Rio - Numa tarde de fevereiro de 1972, na Avenida Rio Branco, no Rio, na pequena redação do "Politika", o primeiro semanário político surgido depois do golpe de 1964 (havia o "Pasquim", mas era humor), fundado e dirigido por mim, Oliveira Bastos e Adirson de Barros, apareceu o jornalista, professor e escritor pernambucano Harrison Oliveira, mestre de história do Colégio Pedro II e da Universidade Cândido Mendes.Tinha uma jóia rara na pasta: uma longa e polêmica entrevista de dom Helder Câmara, o valente arcebispo de Olinda e Recife, que estava desafiando a ditadura aqui dentro e denunciando-a em conferências pelo mundo a fora. O padre Henrique Neto, assessor de dom Helder, tinha sido barbaramente assassinado no Recife.Dom HelderDom Helder, que nasceu em 7 de fevereiro de 1909, estava fazendo 63 anos naquele fevereiro de 1972. Era a maneira de homenageá-lo. Mas era no horror do governo Médici, a censura terrível, e dom Helder falava sobre o Nordeste, o Brasil, o mundo e a Igreja. Harrison, amigo e compadre dele (tem um filho chamado Helder), não conseguiu publicar a entrevista em Pernambuco. A censura não deixaria sair também no Politika.Se mandássemos para Brasília com as demais materias, seria vetada. Resolvi desafiar, não enviar a entrevista para a censura, publicar de surpresa e ver no que dava. Sugeri a capa com apenas esta manchete: "Dom Helder Entre Cristo e Marx".HarrissonHarrison telefonou a dom Helder, que vetou:- "Não sou sacerdote da mentira. Não trabalho com mentira. Não evangelizo com mentira. Esse título não traduz nem representa o que penso. Eu não estou com Marx coisa nenhuma. Nem ao lado dele. Sou de Cristo e dos meus pobrezinhos. Se publicarem a entrevista com esse título, publico uma nota desmentindo o jornal. Como vocês sabem, não tenho direito de defesa na imprensa. Faço um apelo de honra ao Politika, que está procurando ser corajoso e verdadeiro: na impossibilidade de publicar na íntegra uma resposta minha, cancelem a pergunta. Só publiquem perguntas cujas respostas possam ser publicadas na íntegra, assumindo eu as responsabilidades pelo que disser". Não havia mesmo como submeter a entrevista à censura.
Politika
Pusemos na capa: "Entrevista com Dom Helder". Enviamos o resto do jornal para os censores em Brasília, escondemos a entrevista de Dom Helder, Antonio Calegari diagramou, mandamos compor tudo em segredo, e passamos a noite, nervosos e tensos, diante da rotativa dos "Diários Associados", na rua do Livramento, onde o jornal era composto e impresso.Quando o jornal ficou pronto, estávamos preparados para o que desse e viesse. De madrugada, entupimos a caminhonete do jornal com todos os exemplares, íamos saindo felizes para a distribuidora Chinaglia, quando um carro da polícia nos cercou na praça Mauá e apreendeu tudo: o jornal, o Harrisson e eu, e o saudoso colega e editor Jorge França. Foi um dia inteiro de ameaças e sufoco na polícia. Ficaram furiosos com nosso golpe falho. Por pouco não conseguimos. Diziam, hidrófobos: "Dom Helder, nem a morte da mãe".
Mentira
Anos depois, em 1999, em seu livro "Dom Helder, o Prisioneiro do Vaticano" (Editora Universitária - UFPE), o bravo Harrisson Oliveira contou essa história e, afinal, publicou na íntegra a entrevista de Dom Helder, com o título que ele aprovou: "A Entrevista de Dom Helder". E nós, do "Politika", jamais esquecemos sua lição:- "Não sou sacerdote da mentira. Não trabalho com mentira. Não evangelizo com mentira. Esse título não traduz nem representa o que penso".
Dilma
Acompanhei passo a passo, pela TV, o congresso do PT em Brasília. E não esqueci Dom Helder um instante. Ele teria definido Dilma:- Esta é uma sacerdotiza da mentira. É a candidata da mentira.Foi um espetáculo espantoso, jamais visto na história política do país. Opartido reuniu-se em congresso e aprovou vasto documento para ser base da candidatura de Dilma. Ela aceitou inteiramente o documento e fez longo discurso dizendo tudo ao contrário do que o documento dizia.E, para completar, veio Lula, proprietário e patrão do partido e da candidata, e disse tudo totalmente diverso do que ele e ela disseram.Não foi um congresso. Foi uma Olimpíada da Mentira.DilmentiraA rigor, ninguém tem mais o direito de surpreender-se ao ver a Dilma mentindo. Ela não apenas mente, como tem mestrado de mentira. Seu título universitário na Universidade de Campinas é uma mentira, e foi ela quem disse, quem confessou que nunca existiu nem existe.Chamou a secretária da Receita Federal e deu uma ordem fraudulenta para encerrar um processo da família Sarney na Receita Federal e depois disse que nem sequer recebeu em audiência a companheira de governo.Agora, convocou para o comando de sua campanha José Dirceu, José Genoino, João Paulo Cunha, chefões da "quadrilha do Mensalão" (segundo denúncia do Procurador Geral da Republica aceita pelo Supremo Tribunal), dizendo que o Mensalão foi "apenas Caixa-2 de campanha".É a Dilmentira.

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