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terça-feira, 16 de março de 2010

CULTURA ALAGOANA DE LUTO - MORREU RUBENS JAMBO


Flor do Jambo

RUBENS JAMBO
Anivaldo Miranda

O jornalista Rubens Jambo, um dos textos mais marcantes da imprensa alagoana, com um estilo literário que algumas vezes migrou para a produção de contos e romances, alguns deles inacabados ou perdidos em alguma gaveta, morreu nesta segunda-feira, em Maceió. O sepultamento será hoje, terça-feira, 16 de março, às 10 horas da manhã, no Cemitério da Piedade, no bairro do Prado, vizinho à Levada, onde Jambo passou os últimos anos de sua vida.
Integrante de uma família de jornalistas (Arnoldo, Helio, Alberto e Sosthenes, todos Jambo), Rubens foi além dessa praia. Logo cedo, ainda jovem, ingressou nas fileiras do Partido Comunista Brasileiro, onde cumpriu longa militância e muitas tarefas políticas, dentre as quais a de representar nacionalmente a categoria dos sargentos do Exército, depois da queda da Ditadura do Estado Novo, o que lhe valeu prisões e o retorno antecipado à vida civil.
Apaixonado pelo jornalismo foi um dos cronistas do dia-a-dia da vida política alagoana e uma das testemunhas oculares do famoso tiroteio no plenário da Assembléia Legislativa de Alagoas, além de soldado das primeiras fileiras da luta sindical dos jornalistas alagoanos.

Bom amigo, espirituoso, dono de uma fina ironia e amante da vida, Jambo foi um militante político que queria transformar o mundo pelo viés da cultura. Lembro muito bem que, na efervescência do começo dos anos 1960, quando boa parte da juventude estudantil imaginava fazer uma revolução social no Brasil, Jambo, na varanda da casa do meu pai, José Alipio, no bairro do Farol, era o diretor do teatro juvenil de rua que fazia parte do programa Centro de Cultura Popular da União Nacional dos Estudantes, o famoso CPC da UNE.
Veio a ditadura e Jambo passou por ela sem perder ou trocar os seus sonhos, sua alma de esquerda, seu compromisso com os excluídos, sua aposta no socialismo como caminho para superar as injustiças sociais do Brasil e do mundo. Quando retornei do exílio para Maceió, reencontrei Jambo na redação da Tribuna de Alagoas e aí tivemos uma boa e produtiva convivência, sobretudo naqueles anos em que o jornal fundado por Teotônio Vilela transformou-se numa trincheira em favor da democracia plena, das eleições diretas para presidente da República, da convocação da Constituinte que selaria o fim do ciclo autoritário no Brasil.
Na última vez que encontrei com ele, Jambo, mesmo sem forças para andar e carregado numa cadeira para subir os batentes de uma produtora de vídeo, atendeu a convite do colega jornalista Almir Guilhermino e fez questão de gravar um generoso depoimento a meu respeito, para um evento que o Sindicato dos Jornalistas promoveu quando me fez a entrega da honrosa medalha Dênis Agra. Lá no estúdio, ofegante e já bastante marcado pelo peso dos anos, Jambo me puxou pelo braço e disparou:

-Vim aqui por você. Mas essa é minha última tarefa para o partido!
No momento não me toquei que aquela já era uma despedida. Agora, para chegar perto de Jambo, terei que revisitar fotos, folhear o seu delicioso “Manuscritos Alagoensis,” um dos melhores romances já escritos em nossa terra, ou então o excelente “Magnólia meu carrasco,” um conto formidável que guardo em algum lugar da pilha de livros que estão amontoados ao lado da minha estante. Rubens Jambo, Saravá!

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