ARTE: ARQUITETA CAROLINA LIMA

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quinta-feira, 15 de julho de 2010

HISTÓRIAS DO VELHO CAPITA


ETERNA APRENDIZ

AS CINCO MENINAS
Simone é a terceira das cinco irmãs, todas educadas em colégio de freira, filhas de um mesmo pai, de uma mesma mãe, entretanto, nenhuma igual à outra. Desde menina Simone foi sapeca, jogava na rua com meninos, corria na praia, nadava no marzão em frente sua casa, infância livre e feliz. Fazia gosto ver as irmãs, lourinhas, bem prendadas. O pai parou na quinta, queria um filho, mas a natureza é imprevisível e a ciência está longe de escolher sexo.
Simone era a menina dos olhos do pai, a mais alegre, mais estudiosa e mais inteligente, foi a causa de ciúmes, principalmente na irmã número dois, um ano mais velha. Quando Simone nasceu, brincavam com Márcia, ia ficar no canto, a irmãzinha nascida era a rainha da casa; transformou-se em uma reação inconsciente, latente e constante dentro de Márcia contra a irmã.
CASAMENTOS
Todas se casaram, apenas Márcia teve problemas com o marido, certo dia ele tomou um avião rumo ao desconhecido. Depois de algum tempo mandou notícias estava estabelecido no Mato Grosso do Sul, não voltaria, que a mulher não o procurasse.
Simone casou-se com um intelectual, Marcílio, doutor em Letras, professor da Faculdade, homem de cultura e de artes, toca flauta e saxofone. Ela também gosta de escrever, tem um blog. Completaram 25 anos de casados passando como qualquer casal normal, dois filhos, um mora em São Paulo outro trabalha em Brasília. Durante as reuniões familiares sempre havia alguma alfinetada de Márcia na irmã. Era contumaz. Simone não reagia em nome da paz familiar, entretanto, não evitou durante a vida, três boas brigas, até violentas, entre as duas, provocação de Márcia.
TELEFONEMA ANÔNIMO
Certo tarde, Simone recebeu um telefonema anônimo, voz feminina, disfarçada, em rouquidão:
“-Simone, não posso lhe deixar alheia às coisas que estão se passando. Cuide bem do seu marido. Ele tem uma namorada.”
Desligou de imediato. Simone ficou chocada, atordoada com o fuxico, tentava amenizar a situação, não queria acreditar, devia ser trote, existe gente ruim no mundo. Entretanto, no fundo, no seu âmago, surgiu uma fina dor de ciúme e raiva. À noite, Marcílio chegou do trabalho, ela conversou sobre o telefone. O marido negou, pouco convincente. Quando alguém tem a verdade, a reação é contundente, indignada. Simone ficou triste com a falta de firmeza.
Uma semana depois, a mesma voz rouca ao telefone:
“-Amiga, se você quiser pegar seu marido em flagrante, pode ficar esperando na porta do Motel Vips, ele acabou de entrar.”
Eram quatro da tarde, ela estacionou o carro em um lugar estratégico perto do motel. No lusco-fusco do anoitecer apontou o carrão de Marcílio na saída do motel. Simone em estridente buzinada ultrapassou devagar o carro, olhando seu marido, encheu-se de raiva e mágoa ao ver sua irmã, Márcia, ao lado.
Restava controlar as emoções. Em casa juntou as roupas do marido, todos seus pertences, colocou-os na calçada. Imediatamente ele chegou, queria conversar, ela pediu para Marcílio se retirar ou chamaria a polícia.
APRENDIZADO
Foi difícil. Simone passou muitos dias sofrendo até levantar a cabeça, sentir-se viva, dona de si mesma, com a boa ajuda de um psicólogo. O ser humano é um é um eterno aprendiz. Hoje ela continua morando em sua casa, Simone achou uma nova felicidade, a felicidade de viver só. Poder colocar seus bobs, seus cremes, assistir filmes na televisão, andar de calcinha pela casa. Comer o que quiser, sair quando quiser, sexo quando quiser, sempre tem algum homem de plantão disposto a uma mulher bonita, Simone é uma coroa gostosíssima. Ama os amigos, conversas inteligentes, tudo que não tinha quando era apenas a dona de casa perfeita tomando conta da roupa e da comida do marido e dos filhos. Entregou-se à leitura e à escrita, uma produção encantadora, poemas que só uma mulher livre pode escrever. Simone é uma mulher tranquila e feliz em sua solteirice. Esqueceu, desligou-se do passado, surgiu uma nova mulher, aprendeu a ser só. Não quer se amarrar com ninguém, nenhum homem para perturbar a bela liberdade feminina. Quando lhe dá vontade, telefona, não faltam os amantes de plantão.

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