ARTE: ARQUITETA CAROLINA LIMA

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terça-feira, 14 de setembro de 2010

FLIMAR - MIRIAM DE SALES - BAHIA



VIAGEM À ALAGOAS

Uma das coisas boas da vida literária é poder viajar mundo afora conhecendo pessoas,lugares ,costumes,participando da vida cotidiana do homem comum,aquele que sua,luta,trabalha e tem” seus momentos na vida” como dizia Caymmi.

Suponhamos que eu estivesse com um catálogo nas mãos procurando um lugar para viajar a trabalho ou lazer;conciliar os dois já seria meio complicado,confesso.E,após chegar de Paraty,nenhuma viagem próxima estava nos meus planos.Até que zapeando na Rede como sempre faço,descobri a Flimar,a festa literária de Marechal Deodoro ,Alagoas,Brasil.

Marechal Deodoro não era desconhecida para mim;sei que é uma cidade histórica,com casario colonial,berço do proclamador da República,um alagoano retado,adorado pelo Exército na sua época,pela honradez e bons princípios éticos e,por conta disso,arregimentado pelos republicanos para proclamar a República,um movimento criado por jornalistas e cidadãos positivistas,mas,que não contava com apoio nem adesão popular.

Diz a lenda que Deodoro era amigo e fiel ao Imperador.Falam as más línguas que foi liderar esse movimento,contrafeito.Conta-se,até,que o arrancaram do leito,onde se refazia de uma enfermidade.Verdade ou mentira,se ele soubesse no que essa república se transformou,jamais teria saído do leito.

Marechal Deodoro esteve recentemente na mídia porque lá foi filmada a última versão para o cinema do clássico de Dias Gomes,”O Bem Amado”.Tirei fotos na ponte,mas,ocupada pela festa literária ,nem tive tempo de conhecer bem a cidade,suas igrejas e museus.

Mas,tive tempo e ensejo de conhecer um idealista.Militar como Deodoro,mas,hoje,um militante das letras,um guerreiro da Cultura,que, aos trancos e barrancos,criou ,desenvolveu e executou a Festa Literária de Marechal.

Chama-se Carlito Lima e está na contramão dos políticos aloprados do bem-amado.Nem sei se é político. Só sei que trabalha e faz!

Numa pequena cidade,sem hotéis ou pousadas para abrigar convidados,nem restaurantes decentes,ele conseguiu trazer nomes de peso como a Marina Colasanti e o Inácio de Loyola Brandão,entre outros nomes que militam nas lides literárias por esses brasis de meu deus,e os abrigou e alimentou pelas cercanias –e que cercanias !- Praia do Francês,Barra de São Miguel,Massagueira,lugares de sonho que demonstram o quanto o bom deus foi generoso com as Alagoas. A festa que durou quatro dias foi perfeita.Tudo funcionou,as palestras foram excelentes,o público presente e atuante,houve uma integração entre as escolas , a cultura alagoana,a música ,bandas, concertos e teatro,houve tempo e local para tudo até para as cavalhadas.Sem esquecer as serenatas pelas ruas da cidade,coisa bela de se ver,ouvir e cantar.

Como uma cidade pequena de um Estado pobre consegue fazer tudo isso e avermelhar de vergonha o rosto dos outros que nada realizam?Vontade de potencia,eu digo. Sim,aquela vontade de fazer,que tira leite das pedras e faz das tripas,coração,aquela mesma vontade da qual Nietzsche falava.

Pois é,estava lá,em Marechal.posta em prática por Carlito Lima e sua equipe.

A mais bela imagem que vi,que me levou às lágrimas,foi a da grande,bela,poderosa Marina Colasanti discorrendo sobre os livros que marcaram sua vida,naquele humilde auditório de Marechal,num começo de tarde.

Pensei comigo:

-Ora bolas,o Brasil tem jeito;basta alguém se dispor a mudá-lo através da cultura e da educação.

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