ARTE: ARQUITETA CAROLINA LIMA

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quarta-feira, 27 de outubro de 2010

HISTÓRIAS DO VELHO CAPITA


A ÚLTIMA VEZ QUE AMOU THAÍS

Daniel acordou-se tarde, dor no estômago, na cabeça, ressaca da noitada anterior, era pouco mais de meio dia, olhou a mulher ao lado, Thaís dormia sono solto, de bruços agarrada ao travesseiro, apenas de calcinha preta, o sangue ferveu de desejo em suas veias, entretanto, não quis acordá-la, receio de reclamações, chegou quase madrugada. Era um sábado de sol, deixou a mulher dormir, fechou metade da janela do quarto sem perder a deliciosa ventilação no sétimo andar naquele pequeno apartamento, alugado ha três anos, desde que resolveram juntar seus panos e as escovas de dente. Levantou-se com cuidado, abriu o guarda-roupa, pegou cueca, bermuda e camisa limpas, fechou a porta sem barulho. No banheiro olhou-se no espelho, cara de noite má dormida. Espalhou a espuma no rosto, fez a barba, sempre se cuidou na apresentação pessoal. Abriu a ducha morna, mais de 15 minutos, água escorrendo no corpo, sensação de relaxamento e limpeza. Enxugou-se, vestiu a roupa limpa, o tênis, foi à cozinha. Tirou uma jarra de suco de laranja na geladeira, sentou-se à mesa, tomou com rapidez o primeiro copo, ao encher novamente outro copo, percebeu a presença da companheira.

- A que horas chegou? A farra foi boa?

- Oi Thaís, ontem trabalhamos até tarde no escritório, era aniversário do Alcides, fomos comemorar num barzinho da esquina, esquecemos do mundo. Acho que cheguei por volta da meia noite.

- Seu relógio deve estar atrasando, às três horas você ainda não havia chegado, telefonei, celular desligado.

- De fato não olhei a hora, e a bateria do celular descarregada!

- Daniel, precisamos conversar!

- Vamos deixar para outra hora, quero descer, andar na praia, comprar jornais, depois do almoço conversamos com calma.

- Não! Tem que ser agora. Eu não agüento mais ser a boba, toda sexta-feira é sempre igual, chega em casa às três, quatro horas da manhã. Há muito tempo cansei dessas suas saídas, nunca fui a mulher de verdade, sou cheia de defeitos, não quero ser a chifruda.

- Querida você está me acusando injustamente, nós apenas bebemos e batemos papo, só homens, o tempo passou depressa.

- Claro que passa depressa. Sua rapariga tem bom gosto, o perfume impregnado em sua camisa é Fleur-de-Rocalle, conheço longe. Ela é nova ou velha? Deve ser bem melhor que eu. Disse com ironia dando uma volta no corpo seminu, apenas de calcinha preta, Daniel teve vontade de agarrá-la, a sensualidade de Thaís o deixa maluco, sempre teve tara por sua mulher.

Ele chamou-a com a mão para sentar no colo. Ela deu uma risada sarcástica, desafiadora, falou com firmeza.

- Eu quero conversar com você é agora! Para lhe dizer, ontem à noite eu me senti só, também saí para um barzinho.

- Hein? Com quem você saiu?

Perguntou Daniel perturbado com a notícia. Ela não se fez de rogada.

- Saí com a Diana, aquela minha colega da escola de arte, toquei no celular, ela me convidou, fui ao botequim de taxi.

- Mas logo a Diana? Você sabe que nunca gostei dessa amizade, dizem até que ela é garota de programa. Vocês duas num barzinho, eu não gostei. Que merda! Ficou maluca?

- Não éramos somente duas mulheres, havia uma roda de amigos, oito ou dez, comemorando aniversário de um deles, o Dirceu, parece um artista, bonito que nem o Tom Cruise, ele se interessou pelos meus quadros e por mim quando falei ser pintora nas horas vagas de minhas aulas na Faculdade.

- Esse cara lhe paquerou. Você transou com ele? Diga, Diga!!!!

- Eu não sou igual às suas vagabundas, há anos venho aguentando suas farras, bem que poderia ter transado com ele ontem, mas, preferi antes conversar, terminar com você. Decisão tomada e pensada há tempo, hoje vou embora, telefonei para minha mãe, até ficou alegre, nunca gostou de você.

Daniel olhou-a seminua, levantou-se cheio de desejo. Alisou seus cabelos, beijou o rosto, pediu perdão, culpou o uísque, subiu à cabeça. Thaís também o abraçou, perdoava tudo, entretanto, ela não mentia, se encantou com o Tom Cruise, ele perdoasse, era a vida, o casamento havia acabado, voltava a ser solteira. Daniel conhecia a fortaleza da mulher, suas irredutíveis tomadas de decisão. Era o final. Abraçou-a, deitou-a com força no chão da cozinha, foi a última vez que amou Thaís.

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