ARTE: ARQUITETA CAROLINA LIMA

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quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

HISTÓRIAS DO VELHO CAPITA

MEU MARIDO É GAY
Meu marido é gay! Com esse estonteante desabafo, Ritinha iniciou contando seu drama. Fiquei surpreso. No mesmo instante abaixou a cabeça entre as mãos, bateu os cotovelos na mesa, chorou. Estávamos numa mesa de bar na calçada, ao ar livre. Ninguém percebeu o desespero de Ritinha, era cedo, boca da noite, início da boemia, havia pouca gente na rua. Ao se recuperar, Ritinha, mais calma, contou sua história. Precisava desabafar, contar sua tragédia. Carecia de um ombro, de um ouvido amigo.
Ritinha nasceu e se criou no agreste, lá para as bandas de Traipu, bonita cidade às margens do Rio São Francisco. Quando completou 18 anos só havia namorado um rapaz em sua vida, namoro discreto e de pouco tempo. Em seu aniversário estava solteira.
Nessa época apareceu em Traipu um certo gaúcho chamado Rodrigo. Era engenheiro agrônomo. Logo ficou conhecido na região pelo saber, e, sobretudo, por ser um tipo de homem bonito, alto, forte, cabelos e bigodes espessos e pretos. O gauchão enfeitiçou as moças do sertão. Onde Rodrigo aparecia era uma festa. Todos queriam seu inteligente papo, seu conhecimento eclético. As moças ficaram encantadas com a estampa de homem e sua gentileza. Rapaz educado, de fino trato, másculo e espadaúdo. Foi convidado e compareceu à festa de 18 anos de Ritinha.
Rodrigo amava o campo, era de Caxias, uma bonita cidade do Rio Grande do Sul. Ficou apaixonado pelo sertão nordestino. A hospitalidade e humildade do povo fizeram bem ao ego e à alma. Alugou uma casa para morar, estabeleceu-se em Traipu à beira do Velho Chico. Em sua residência tinham dois auxiliares: Dona Presenta, a cozinheira, e um menino para pequenos serviços. Cicinho com seus 14 anos era um baita rapaz de corpo moreno e peito liso de tanto nadar no Rio São Francisco. Rodrigo era ótimo patrão. Dona Presenta não tinha o que reclamar. Cicinho depois que começou a trabalhar como caseiro, com direito a comida e dormida, possuía um padrão de vida que muitos filhos daquelas bandas do sertão não tinham. O rapaz passou a andar alinhado, vestir camisas e calças dos “shoppings” de Maceió. Até bicicleta nova, moderna, cheia de marchas, uma belezura, ganhou no dia de seu aniversário. Rodrigo tinha muita atenção com Cicinho. Fato que deu margem a maledicentes comentários de alguns desocupados, vagabundos da cidade. Coisas de quem não tem o que fazer. Intrigas de comadres. Rodrigo considerado um exemplar cidadão, não era chegado às farras e nem às putas das redondezas. Nunca viram o gaúcho na zona. Um exemplo para os maridos pecadores daquela região, que diziam ir a negócio e ficavam nas casas de rapariga de Arapiraca.
Pouco depois de completar dois anos morando no sertão, Rodrigo casou-se com Ritinha, a moça mais cobiçada e mais bonita do agreste alagoano. O casal ganhou de casamento uma fazenda de gado em São José da Tapera, presente do sogro. Fazenda hoje administrada por Cicinho. Rodrigo e Rita optaram morar em Maceió onde têm melhores escolas para os dois filhos, maior conforto e qualidade de vida.
Ano passado Ritinha começou a desconfiar que Rodrigo tivesse uma amante, há muito tempo ele não a procurava para fazer amor. Sentiu falta das carícias, do peito cabeludo do marido.
Ritinha contratou um detetive. Audálio, o investigador matrimonial, logo trouxe o resultado. Mostrou fotografias de meninas de programa entrando no carro de Rodrigo. Olhando atentamente para as fotos, dava para perceber, as meninas eram travestis. Rodrigo gostava mesmo era de uma espada, tinha tara pelos travestis; fazia papel ativo e passivo, como mais tarde ele confessou. O surpreendente foram algumas fotos do marido entrando de carro em motéis com seu dileto amigo, auxiliar, pau-pra-toda-obra, o administrador de sua fazenda, o jovem Cicinho.
Essa foi a infeliz história que Rita contou com muita emoção naquela noite. Entretanto, não perdeu bom humor, ao se lamentar: “E um homão tão másculo e bonito daquele, que desperdício!” De repente desabou a chorar, deitou a cabeça em meu ombro, pediu que lhe abraçasse. Não resisti às lágrimas, aos pedidos de uma frágil mulher. Sou homem de coração mole.

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